INFERNO ... Cantos I-V ... VI-XI ... XII-XVII ... XVIII-XXIII ... XIV-XXIX ... XXX-XXXIV
PURGATÓRIO ... Cantos I-VI ... VII-XII ... XIII-XVIII ... XIX-XXV ... XXVI-XXIX ... XXX-XXXIII
PARAÍSO ... Canto I-VI ... VII-XII ... XIII-XVIII ... XIX-XXIII ... XXIV-XXVIII ... XXIX-XXXIII
CANTO XXX
Acolhida
festivamente pelos anjos e pelos bem-aventurados, desce do Céu, Beatriz (a
divina sabedoria) e pousa no carro. Nisto Virgílio (a humana sabedoria)
desaparece. Ela dirige-se a Dante e lhe exprobra os seus desvios. Dante chora;
e os anjos se compadecem dele. Beatriz, dirigindo-se a eles, expõe mais
particularmente quais foram as suas faltas depois da sua morte.
QUANDO
o setentrião do céu primeiro,
Que,
jamais tendo ocaso, nem nascente,
3
Da culpa só nublou-se em nevoeiro,
E
ali fazia cada qual ciente
Do
dever seu, bem como o deste mundo
6
Do nauta ao porto é guia permanente,
Parou,
a santa grei, que ia em segundo
Lugar
antes do Grifo, dirigia,
9
Como à paz sua ao carro olhar profundo.
Um,
que do céu arauto parecia,
Veni,
sponsa de Libano — cantando,
12
Três vezes disse, e a turba repetia.
Como,
ao soar o derradeiro bando,
Hão
de os eleitos ressurgir ligeiros,
15
Com renovada voz aleluiando,
Assim,
da vida eterna mensageiros,
Cem
anjos, ad vocem tanti senis
18
Elevaram-se ao carro sobranceiros.
Diziam
todos: — Benedictus qui venis!
Modulavam,
lançando em torno flores:
21
Manibus, oh, date lilia plenis!
Já
vi do dia aos lúcidos albores
Em
parte o céu de rosicler tingido,
24
Estando em parte azul e sem vapores,
E
o sol, nascendo em nuvens envolvido,
Permitir
que se encare em seu semblante,
27
Entre véus nebulosos escondido:
Tal,
em nuvem de flores odorante,
Que
de angélicas mãos sobe fagueira
30
E cai no carro e em torno a cada instante,
De
véu neves cingida e de oliveira,
Uma
dama esguardei com verde manto
33
E veste em cor igual à da fogueira.
E
o espírito meu que, tempo tanto
Havia
já, não fora ao seu conspeito,
36
Trêmulo, entrando de soçobro e espanto,
Antes
que aos olhos se mostrasse o aspeito,
Sentiu,
por força oculta que desprende,
39
Do antigo amor, o poderoso efeito.
Quando
essa alta influência em mim descende,
Que
desde o alvor primeiro da existência
42
Da alma as potências me avassala e rende,
À
sestra me voltei com diligência,
Qual
infante da mãe correndo ao seio,
45
Se dor ou medo assalta-lhe a inocência,
Por
dizer a Virgílio: — “Neste enleio,
Meu
sangue em cada gota é convulsado,
48
De amor na antiga flama eu me incendeio.”
Mas
ai! Virgílio havia-se ausentado,
Virgílio,
o pai dulcíssimo e amoroso,
51
Virgílio, a quem, por me salvar, fui dado!
Quanto
perdeu neste lugar formoso
Eva,
não tolhe as lágrimas no rosto,
54
Que o rocio me lavara milagroso.
—
“Não haja por Virgílio ir-se, desgosto;
Não
te entregues ao pranto agora, ó Dante;
57
Por dor mais viva ao pranto sê disposto.” —
Como
em revista às naus sábio almirante
Nas
manobras feroz a dura gente
60
E os corações esforça vigilante,
Do
carro à borda, à esquerda, incontinênti,
Quando
voltei-me ao nome proferido,
63
Que por ser dito aqui vem simplesmente,
A
dama vi que tinha aparecido
Velada
em meio da divina festa,
66
Tendo, além-rio, o gesto a mim volvido.
Conquanto
o véu, que lhe cingia a testa,
Que
de Minerva fronde coroava,
69
A face não deixasse manifesta,
No
régio continente que ostentava
Desta
arte prosseguiu; porém dizendo
72
O mais acerto para o fim guardava:
—
“Oh! Sou eu! Sim! Beatriz stás vendo!
Pois
te hás dignado de ascender ao monte
75
Ter aqui dita o homem já sabendo?” —
Os
olhos inclinando à pura fonte
Vi
minha imagem; logo os volto a um lado,
78
Tanta vergonha me acendia a fronte!
Qual
mãe, que o filho increpa em tom maguado,
Pareceu-me:
porque se torna amara,
81
A piedade que pune, ao castigado.
Calou-se
ela e dos anjos a voz clara
—
“In te, Domine, speravi” — de repente
84
Entoa, mas em pedes meos pára.
Da
terra italiana em serra ingente
Da
esclavônia por ventos contraída
87
Entre as selvas congela a neve algente;
Depois
liquesce e corre derretida
Ao
quente sopro, que do sul procede,
90
Como cera de flamas aquecida;
Tal
o soçobro as lágrimas me impede
Antes
de ouvir a angélica toada,
93
Que o hino dos eternos orbes mede.
Mas
quando, em seus concentos expressada,
Compaixão
vejo mais do que se houvessem
96
Dito: — “Senhora, por que és tanto irada?”,
No
peito meu os gelos se amolecem;
Dos
lábios e dos olhos irrompendo,
99
Com lágrimas soluços aparecem.
Firme
no carro, à destra se volvendo,
Ela
aos pios espíritos dizia,
102
Do cântico às palavras respondendo:
—
“Vigilantes estais no eterno dia;
Jamais
por noite ou sono distraída,
105
Do tempo os passos vossa vista espia.
“Minha
resposta, pois, vai dirigida
Àquele,
que ora ao pranto os olhos solta:
108
A culpa seja pela dor medida.
“Dos
céus, não pela ação, na imensa volta,
Que
para um fim conduz cada semente,
111
Segundo os astros, que lhe vão na escolta,
“Se
não de graças por divina enchente,
Que
chovem sobre nós dessa eminência,
114
A que se alar nem pode a nossa mente,
“Este
homem foi na aurora da existência,
De
tais dotes ornado, que pudera
117
Da virtude alcançar toda a excelência.
“Se,
porém, a incultura se apodera
Ou
semente ruim do bom terreno,
120
Plantas mali’nas, peçonhentas gera.
“Conservou-se
ante mim puro e sereno:
Meus
olhos, em menina, o conduziram
123
Pelo caminho mais seguro e ameno.
“Tanto
que umbrais à vista se me abriram
Da
idade segunda e desta vida,
126
Deixou-me; outros enlevos o atraíram.
“Quando
em espírito eu fora convertida
E
beleza e virtude em mim crescera,
129
Em menos preço fui por ele havida.
“Por
fraguras fugiu da estrada vera,
Em
fingidas imagens enlevado,
132
De que jamais se alcança o que se espera.
“Inspirações
em vão hei-lhe impetrado
Em
sonhos, em vigília o bem mostrando:
135
Cego, correu pelo caminho errado.
“Já
todo o esforço meu se malogrando,
Para
salvá-lo do perigo eterno
138
Quis que baixasse ao reino miserando.
“Foi
neste empenho que desci ao inferno,
E
à sombra, que de guia lhe há servido,
141
Fiz o meu rogo lacrimoso eterno.
“O
preceito de Deus fora infringido,
Se
ele do Letes transcendesse as águas,
Se
lhe fosse prová-las permitido,
145
Sem seu preço pagar em pranto e mágoas.” —
11.
Veni, sponsa, etc., convite do esposo à esposa no Cântico dos Cânticos de
Salomão. — 17. Ad vocem tanti senis, à voz de velho tão venerando como era
Salomão. — 19. Benedictus qui venis, cantavam os hebreus a Jesus quando entrou
em Jerusalém, S. Mateus, Evang. XXI, 9. — 21. Manibus, oh, date lilia plenis,
espalhai lírios às mãos cheias. — 39. Do antigo amor etc., Dante se enamorou de
Beatriz, quando tinha a idade de nove anos. — 83. In te, Domine, speravi, Salmo
XXX, até às palavras: pedes meus, exprime o arrependimento e a esperança na
misericórdia de Deus.
CANTO
XXXI
Beatriz
continua repreendendo a Dante, o qual confessa os seus pecados. Matilde o
mergulha, então, no rio Letes. Depois as sete damas que participavam da
procissão (as quatro virtudes cardiais e as três virtudes teologais) o levam
até Beatriz, pedindo a ela que se desvele diante do seu fiel. Beatriz tira o
véu.
“Ó
TU que estás além da água sagrada”
—
Prosseguiu Beatriz incontinênti,
3
A ponta a mim voltando dessa espada,
Que
de revés já fora assaz pungente —
“Diz
se é verdade, diz! À culpa unida
6
Esteja a confissão do penitente.” —
Tanta
a força mental foi confrangida,
Que
a voz desfaleceu, se erguer tentando,
9
Expirou-me nas fauces inanida.
Esperou;
disse após: — “Que estás pensando?
Responde:
inda não tens nágua apagado
12
Lembranças do passado miserando?” —
No
meu enleio, de temor travado,
Um
tão confuso sim, trêmulo, expresso,
15
Que houve mister dos olhos ajudado.
Como
em besta entesada em grande excesso,
Quebrando-se
arco e corda, parte a seta
18
E no alvo dá sem força do arremesso,
Stando
minha alma em tanto extremo inquieta
E
em suspiros e lágrimas rompendo,
21
Perdeu a voz o som, que a língua enceta.
—
“Se ao meu querer” — prossegue — “obedecendo
Tinhas
fanal, que ao bem te conduzisse,
24
De anelos teus a mira ser devendo,
“Onde
o poder de estorvos, que impedisse
Teus
passos? Quais grilhões que os retivessem
27
Na vereda, que avante ir permitisse?
“Houve
encantos, que a outros te prendessem,
E
delícias, que tanto te atraíram,
30
Que a tua alma enlear assim pudessem?” —
Do
peito agros suspiros me saíram;
Para
falar-lhe apenas tive alento,
33
E a voz a custo os lábios exprimiram.
Tornei
chorando: — “O engano, o fingimento
Ao
terreno prazer me hão transviado,
36
Em vos nublando a face o passamento.” —
—
“Se ocultaras” — falou-me — “o teu pecado,
A
graveza da culpa ao claro vira
39
Aquele, por quem deves ser julgado.
“Mas
se o réu, confessando, tem na mira
O
pesar do mau feito, em nossa corte
42
Contra o fio da espada a mó se vira.
“Entanto,
por que seja em ti mais forte
De
errar o pejo e, no porvir ouvindo
45
Sereias, não procedas de igual sorte,
“Escuta-me,
os teus prantos consumindo:
Verás
que, inda sepulta, eu te guiara,
48
Pela contrária rota conduzindo.
“Jamais
arte ou natura te mostrara
Enlevo,
quanto a rara formosura
51
Do corpo, em pó tornado, em que eu morara.
“Se
comigo baixara à sepultura
Teu
supremo prazer, como arrastar-te
54
Pôde, após si, mortal delícia impura?
“Enganos
tais sentindo saltear-te,
Aos
céus alçando a mente deverias
57
Té minha eternidade sublimar-te,
“E
não baixar do vôo, em que subias
Te
expondo a novos tiros, atraída
60
Por jovem, por vaidades fugidias.
“Será
duas, três vezes iludida
Ave
inexperta; mas a seta, o laço
63
Pássaro velho esquiva, apercebido.” —
Qual
menino, que a mãe por largo espaço
Increpa;
e, baixa a fronte, envergonhado
66
Reconhece em silêncio o errado passo,
Tal
me achava. — “De ouvir se estás magoado.
Levanta
a barba!” — ainda prosseguia —
69
“Olhando-me, hás de ser mais castigado!” —
Com
menos resistência abateria
De
Europa o vendaval carvalho altivo
72
Ou da terra, que a Jarba obedecia,
Do
que eu alcei o rosto pensativo;
Quando
ela disse barba e não semblante
75
A malícia notei e o seu motivo.
Olhos
erguendo alfim, do mesmo instante
Aos
ares vi que flores não lançava
78
A falange dos anjos radiante.
Tímida
a vista a Beatriz achava
Voltada
ao Grifo, que uma só pessoa
81
Em naturezas duas encerrava.
Além
do rio sob o véu e a c’roa
Tanto
excede a beleza sua antiga
84
Quanto em vida as que mais fama apregoa.
E
do pesar pungiu-me tanto a urtiga,
Que
das cousas, que mais na terra amara
87
A mais cara odiei como inimiga.
Remorso
tal a mente me assaltara,
Que
vencido tombei: qual fiquei sendo
90
Sabe quem dor tão viva motivara.
Ao
coração a força me volvendo
Notei
a dama, que primeiro eu vira
93
Ao lado meu, — “Abraçai-me!” — dizendo.
Té
ao colo no rio me imergira;
E
correndo, qual leve lançadeira,
96
Das águas sobre a tona a si me tira.
Já
próximo à beatífica ribeira,
Ouvi
Asperges me tão docemente,
99
Que o não descrevo ou lembro, inda que o queira.
Matilde,
abrindo os braços de repente,
Cingiu-me
a fronte e súbito afundou-me;
102
Era dessa água haurir conveniente.
Assim
purificado, ela guiou-me
Das
damas quatro para a dança bela,
105
E cada uma nos braços estreitou-me.
—
“Cada qual, ninfa aqui, nos céus estrela,
Antes
que Beatriz descesse ao mundo,
108
Servas de ordem suprema somos dela.
“Os
seus olhos verás; mas no jucundo
Lume
interno hás de ter vista aguçada
111
Pelas três cujo olhar é mais profundo.” —
Modulando
na angélica toada,
Ante
o Grifo consigo me levaram:
114
Lá Beatriz para nós era voltada.
—
“Em contemplar sacia-te!” — falaram —
“As
esmeraldas que ora tens presentes,
117
Donde os farpões de amor te vulneraram.” —
Mais
que a flama desejos mil ardentes
Prenderam
olhos meus aos seus formosos,
120
Na adoração do Grifo persistentes.
Qual
sol no espelho, nesses luminosos
Astros
o Grifo se alternando, eu via
123
Seres dois refletir misteriosos:
Meu
espanto, ó leitor, qual não seria
Vendo
o objeto na imagem transmutado,
126
Quando constante em si permanecia?
Enquanto
eu de prazer e pasmo entrado,
Esse
doce manjar stava gozando,
129
Que sacia mas sempre é desejado,
De
ordem mais alta ser manifestando
Pelo
meneio, as três se adiantaram,
132
Por angélico estilo modulando.
“Os
olhos santos, Beatriz” — cantaram —
“Oh!
volve ao servo teu leal constante
135
A quem por ver-te os passos não custaram.
“Nos
dá por grã mercê que o fido amante
Sem
véu segunda formosura
138
Contemple nesse divinal semblante!” —
Ó
resplendor da luz eterna e pura!
Quem
do Parnaso à sombra descorando
141
E da água sua haurindo alma doçura,
Aturdido
não fora, se arrojando
A
tentar descrever qual te mostraste,
Quando
o céu de harmonias te cercando,
145
Ao ar patente a face revelaste?
71-72.
De Europa etc. Ao vento boreal que sopra na nossa região, ou ao vento
meridional que sopra na África, onde reinou Jarbas. — 75. A malícia notei etc.,
Beatriz disse “barba” e não semblante, querendo referir-se à idade madura de
Dante.
CANTO
XXXII
Dante
olha com amor a Beatriz. No entanto o carro, seguido pela procissão dos
bem-aventurados, se move em direção a um árvore elevadíssima e despida de
folhagem. O grifo ata o carro à árvore e esta logo cobre-se de flores. O Poeta
adormece. Ao despertar vê Beatriz, rodeada das sete damas, sentada ao pé da
árvore. Acontecem, depois, no carro fatos maravilhosos que causam ao Poeta
surpresa e medo.
COM
tão sôfregos olhos saciava
A
sede, em que anos dez eu me incendia,
3
Que aos mais sentidos toda a ação cessava.
Quase
murada a vista se imergia
No
santo riso ao mais indiferente,
6
E nos laços de outrora me prendia.
Desse
êxtase arrancou-me de repente
A
voz das santas, que da esquerda soa:
9
— “Demais contemplativa tens a mente!” —
Os
ofuscados olhos me nevoa
Torvação
semelhante ao vivo efeito,
12
Que do sol causa a face em quem fitou-a.
Mas
quando à pouco luz estive afeito
(Pouca
em confronto ao lume deslumbrante,
15
Que por força deixara e a meu despeito),
Vi
que à destra volvia o triunfante
Exército
celeste à frente estando
18
Os candelabros sete e o sol flamante.
Qual
hoste a se salvar broquéis alçando,
Se
volta, e co’a bandeira não prossegue
21
Senão mudada a direção, girando;
A
celeste milícia avante segue,
Na
marcha procedendo desfilava
24
Antes que o santo carro a volver chegue.
Cada
coréia as rodas escoltava,
E
o Grifo a carga santa removia
27
Sem parecer que as penas agitava.
Quem
pelo rio me arrastado havia,
Estácio
e eu a roda acompanhamos,
30
Que por arco menor volta fazia.
Na
alta floresta caminhando vamos,
Erma
por culpa da que a serpe ouvira:
33
Pelo cântico os passos regulamos.
Andáramos
espaço que medira
Uma
seta três vezes disparada:
36
Desceu Beatriz do carro, em que eu a vira.
“Adam!”
— disse em murmúrio a grei sagrada,
Todos
depois uma árvore cercaram,
39
De folhas e de flores despojada.
Tanto
aos lados seus ramos se alargaram,
Quanto
erguiam-se ao céu: como portento
42
índios nas selvas suas os mostrariam.
“Ó
Grifo! Glória a ti! De culpa isento,
Não
provaste do lenho doce ao gosto,
45
Que tanta dor causou, tão cru tormento!” —
Daquele
tronco excelso em torno posto,
Diz
o préstito; e o Grifo lhe contesta:
48
— “Assim justiça é sempre no seu posto.” —
E
ao carro que tirara na floresta,
Voltou-se
e o conduziu ao tronco anoso:
51
Dele foi parte, a ele atado resta.
Quando
o astro rebrilha poderoso,
Juntando
os seus clarões aos que desprende,
54
Depois do Peixe o signo luminoso,
Brotando
as plantas cada qual resplende
De
esmalte novo, e ainda de outra estrela
57
Abaixo os seus frisões o sol não prende:
Súbito
assim refloresceu aquela
Árvore
nua, gradações formando
60
Entre rosa e violeta em cópia bela.
Então
de um hino as notas escutando,
Quais
nunca sobre a terra se cantaram,
63
Não pude resistir a som tão brando.
Se
eu narrasse como olhos se fecharam
De
Argo impiedosos, de Sírius ao conto
66
Que o seu nímio velar caro pagaram,
Pintor,
tirara ao natural e em ponto
O
sono em que engolfei-me docemente;
69
Mas faça-o quem nessa arte forma pronto!
Passo
ao momento em que espertou-se a mente:
Fulgor
ao sono intenso o véu rompia,
72
— “Eia! que fazes?” — ouço incontinênti.
Quais
vendo que de flores se cobria
O
linho cujo pomo apetecido
75
Na boda eterna os anjos extasia,
João,
Pedro e Tiago ao seu sentido,
Depois
da prostração à voz tornaram,
78
Que sono inda maior tinha vencido,
E
a companhia decrescida acharam
De
Elias e Moisés enquanto as cores
81
Sobre a estola do Mestre se mudaram:
Tal
despertei da luz aos esplendores,
Vi
perto a dama que me fora guia
84
Do rio à margem sobre a relva e as flores.
—
“Onde é Beatriz?” — cuidoso lhe dizia.
—
“Da fronde nova à sombra a vês sentada,
87
Junto à raiz” — Matilde respondia.
“Da
companhia sua é rodeada;
Ao
céu após o Grifo os mais subiram,
90
Com mais doce canção, mais sublimada.” —
Não
sei se as vozes suas prosseguiram
Pois
aquela aos meus olhos se mostrara,
93
Em quem meus pensamentos se imergiram.
Sobre
a terra bendita se assentara,
Só,
como em guarda ao plaustro portentoso,
96
Que ao tronco antigo o Grifo vinculara.
Rodeiam-na,
com círculo formoso,
As
ninfas sete, os lumes empunhando,
99
Seguros de Austro e de Aquilão ruidoso.
—
“Na selva a tua estada abreviando,
Serás
comigo na eternal morada
102
Da Roma, onde tem Cristo o régio mando.
“Do
mundo em prol, perdido em rota errada,
O
carro observa e cada cousa atento
105
Guarda, por ser ao mundo registrada.” —
Falou
Beatriz; e eu, pois, que o entendimento
Do
seu querer aos pés tinha prostrado,
108
Fitei no carro a vista e o pensamento.
Dos
etéreos confins arremessado,
Não
rasga o raio à densa nuve, o seio,
111
Com tanta rapidez precipitado,
Como
da alta ramada pelo meio,
Córtice
fronde, flores destruindo,
114
O pássaro de Jove irado veio.
Com
força imane o carro foi ferindo,
Que
aos golpes, qual navio, se agitava,
117
Que o mar combate os bordos lhe investindo.
E
logo após eu vi que se enviava
Ao
carro triunfal uma raposa,
120
Que bom cibo não ter manifestava.
Increpando-lhe
a vida criminosa,
Beatriz
pô-la em fuga, e em tanta pressa,
123
Quanto sofreu-lhe a ossada cavernosa.
Depois
do carro à caixa a Águia se apressa
A
vir por onde, há pouco, descendera;
126
De inçar de plumas seus coxins não cessa.
Qual
gemido que a dor no peito gera,
Ouvi
do céu baixar voz, que dizia:
129
— “Ó barca! bem má carga ora se onera!” —
A
terra então me pareceu se abria,
Entre
as rodas um drago arrevessando
132
Que pelo carro a cauda introduzia.
Depois
a cauda atroce retirando,
Qual
vespa o seu ferrão, feita a ferida,
135
Arranca o fundo e vai-se coleando.
Como
em terra vivaz relva crescida,
Cobre
o resto plumagem de repente,
138
Com tenção casta e pura oferecida;
Timão
e rodas vestem-se igualmente
Tão
presto, que um suspiro vem lançado
141
À flor dos lábios menos prontamente.
Daquele
plaustro santo, assim mudado,
Nos
ângulos cabeças irromperam,
144
Três no timão e uma em cada lado.
Essas,
como as de boi, armadas eram;
Uma
só ponta as quatro guarnecia:
147
Monstros iguais já nunca apareceram.
Qual
penhasco em montanha excelsa, eu via
No
carro nua meretriz sentada,
150
Lascivos olhos em redor volvia.
Como
para não ser-lhe arrebatada
Em
pé ao lado seu stava um gigante,
153
Com quem trocava beijos despejada.
Que
os olhos requebrava a torpe amante
Pra
mim notando, fero a flagelava
156
Dos pés a fronte o barregão farfante.
No
ciúme e na ira, que o inflamava
Desprende
o carro e à selva o vai tirando,
Que
depressa aos meus olhos ocultava
160
A prostituta e o novo monstro infando.
38-39.
Uma árvore etc., a árvore do bem e do mal, cujo fruto Adam comera, pelo que foi
expulso do Paraíso. — 64-66. Como os olhos se fecharam etc., como adormeceu e
se fecharam os olhos de Argos ao ouvir o conto de Mercúrio a respeito de Sírio,
— 73-81. Quais vendo etc., como os apóstolos João, Pedro e Tiago, ao assistirem
à transfiguração de Jesus Cristo, no monte Tabor, e ao vê-lo em companhia de
Moisés e Elias, desmaiaram e despertando, depois, o viram em sua forma natural
havendo os dois profetas desaparecido, etc. — 102. Da Roma onde tem Cristo o
régio mando, o Paraíso. — 114. O pássaro de Jove, a águia, símbolo do império.
— 119. Uma raposa, símbolo da heresia. — 126. De inçar de plumas seus coxins
não cessa, provável alusão ao poder temporal outorgado por Constantino à Igreja
Romana. — 142-147. Daquele clastro etc., Dante nesta visão, que imita as visões
do Apocalipse, pretende simbolizar os funestos efeitos das riquezas que foram
oferecidas à Igreja. As sete cabeças do monstro provavelmente simbolizam os sete
pecados capitais originados pela corrupção. — 149. Meretriz, a Cúria Romana. —
152. Um gigante, a casa real de França e, talvez, mais particularmente, Felipe
o Belo que umas vezes foi amigo, outras inimigo dos Papas, conseguindo que o
Papa Clemente V, em 1305, transportasse a Santa Sé para Avinhão.
CANTO
XXXIII
Beatriz
anuncia, com linguagem misteriosa, que brevemente aparecerá quem libertará a
Igreja e a Itália da servidão e da corrupção. Impõe-lhe que escreva o que viu.
Pede, depois, a Matilde que o mergulhe nas águas do rio Eunoé. Dante, depois da
imersão, sente-se mais forte e disposto a subir às estrelas.
DEUS,
venerunt gentes, alternando,
Em
coros dois, suave melodia
3
Cantam as ninfas, pranto derramando.
E
Beatriz, a suspirar, ouvia
Tão
dorida, que pouco mais, outrora
6
Junto da Cruz mostrara-se Maria.
Quando
lhe coube alçar a voz canora,
Entre
as formosas virgens posta em pé,
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Com santo ardor, que as faces lhe colora:
“Modicum
et non videbitis me,
Caras
irmãs, et iterum” — tornava —
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“Modicum et vos videbitis me”.
Depois,
antes de si as colocava,
E
a mim e a dama e ao Vate, que restara,
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Pra seguir os seus passos acenava.
Ia
assim: que ela houvesse eu não julgara
O
seu décimo passo em terra posto,
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Eis sua vista na minha se depara.
—
“Mais perto” — disse com sereno rosto —
“Caminha;
pois falar quero contigo,
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E o leves a me ouvir star bem disposto.” —
Beatriz,
logo em tendo-me contigo,
—
“Por que” — prossegue —“irmão não hás querido
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Me inquirir, quando vens assim comigo?” —
Fiquei,
como o que o espírito aturdido,
Ao
seu superior falando sente,
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E apenas balbucia confundido.
Falei,
com voz cortada, reverente:
—
“Quanto hei mister sabeis mui bem, senhora,
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O que seja em prol meu sabeis prudente.” —
—
“De temor e vergonha desde agora” —
Tornou
— “isento sê, stando ao meu lado:
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Como quem sonha as vozes não demora!
“A
caixa, que a serpente há devastado,
Já
foi: de Deus castigo aos criminosos
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Ser não pode por sopa obliterada.
“Não
faltarão herdeiros cuidadosos
Da
águia, que ao carro as suas plumas dera,
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E o tornou monstro e presa aos cobiçosos.
“Vejo
o porvir e a voz minha assevera
O
que propínquos astros anunciam:
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Nada os estorva, nem seu curso altera.
“Um
quinhentos dez cinco prenunciam,
Que
o céu manda a punir a depravada
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E o gigante: ambos juntos delinquiam.
“A
narração, talvez, de treva inçada,
Como
as do Esfinge e Têmis não a entendas,
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Por parecer-te ao spírito enleada.
“Farão,
porém, os fatos que a compreendas;
Quais
Náiades, darão do enigma a chave,
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Sem dano ao trigo, ao gado, sem contendas
“Que
na memória tua isto se grave:
Como
te falo, assim o ensina aos vivos
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Que se afanam em buscar morte insuave.
“Lembra
os que hás visto feitos aflitivos.
Da
árvore o stado narra, que te espanta,
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Quanto sofreu assaltos dois esquivos.
“Quem
despoja ou mutila a sacra planta
Blasfema
a Deus, de fato o ofende ousado:
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Para o seu uso só a criou santa.
“Sperou
a primeira alma, que há provado
Do
seu fruto, anos mil cinco gemendo
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Por quem penas em si deu do pecado.
“Tua
alma dorme, se não stá sabendo
A
causa singular, que a planta há feito
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Tão alta, o cimo tal largura tendo.
“Se
da água d’Elsa não trouxesse o efeito
O
teu vão cogitar sobre essa mente,
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Que escurece, qual sangue à amora o aspeito
“Fora
o que eu disse já suficiente
Para
o justo preceito compreenderes,
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Que Deus há posto sobre o tronco ingente.
“Como
te ofusca a luz dos meus dizeres.
Porque
de pedra tens o entendimento,
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Que, afeito à culpa, não permite veres,
“Uma
imagem te guarde o pensamento,
Como
palma ao bordão junta, voltando,
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Peregrino, em remédio ao esquecimento.” —
—
“No cérebro, qual cera conservando” —
Tornei
— “a marca do sinete impresso,
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Vosso verbo se irá perpetuando.
“Mas
por que se sublima em tanto excesso
Vossa
palavra, sempre apetecida,
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Que, alcançá-la tentando, desfaleço?” —
—
“Por veres” — diz — “que escola pervertida,
Hás
cursado, o que, pois, sua doutrina
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Ao verbo meu não pode ser erguida;
“Pois
a vereda vossa da divina
É
tão remota, quanto está distante
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Da terra o céu que ao alto mais se empina” —
—
“Não me lembro” — respondo à excelsa amante
“De
ter-me às vossas leis nunca esquivado:
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Não diz-mo a consciência vigilante.” —
—
“Possível é que estejas olvidado” —
Respondeu-me
a sorrir — “tem na lembrança
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Que inda há pouco, hás do Lete água tragado,
“E
se de flama o fumo dá fiança,
Que
o teu querer no erro andou perdido
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Demonstra o olvido teu com segurança.
“Será
da minha voz claro o sentido,
Por
que mais facilmente de ora avante
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Da rude mente seja percebido.” —
Mais
demorado, entanto, e coruscante
No
círc’lo entrava o sol do meio-dia,
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Como os climas diversos variante,
Quando
as damas, bem como astuto espia,
Que,
precedendo a tropa, de andar cessa,
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Se acaso novidade se anuncia,
Paravam,
ao sair da sombra espessa,
Qual
aos frios arroios murmurantes
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Dos Alpes bosque verde-negro of’reça.
Julguei
ver Tigre e Eufrates não distantes
Brotar
da mesma fonte juntamente
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E separar-se lentos, quais amantes.
—
“Ó glória! ó esplendor da humana gente!
Qual
é, dizei-me, essa água, bipartida
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Depois de proceder de uma nascente?” —
—
“Ser-te deve a pergunta respondida
Por
Matilde” — tornou-me então, falando
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Em tom de quem por falta fosse argüida,
A
dama disse: — “Tudo lhe explicando
Já
stive: não podia haver efeito
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Do Letes, a lembrança lhe apagando.” —
E
falou Beatriz: — “Pode ter feito
Escura
a mente sua o mor cuidado,
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Que o entendimento às vezes torna estreito.
“Eis
Eunoé, que o curso há derivado:
Conduze-o
e, como sabes, o imergindo,
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Seu coração alenta desmaiado.” —
Como
alma nobre, ao bem nunca fugindo,
Faz
do estranho querer própria vontade,
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Quando um simples sinal o está pedindo,
A
gentil dama, usando alta bondade,
Guiou-me
e a Estácio disse, que atendia:
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— “Segue-o também” — com garbo e majestade
Esse
doce licor, que não sacia,
Eu
cantara, leitor, se desse ensejo
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Da página uma parte inda vazia.
Mas,
porque todas ocupadas vejo
E
ao meu segundo Cântico aplicadas
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Da arte o freio me tolhe esse desejo.
Como
de planta as folhas renovadas
Mais
frescas na hástea mostram-se, mais belas,
Puro
saí das águas consagradas
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Pronto a me alar às lúcidas estrelas.
1.
Deus venerunt gentes, Salmo 78, no qual David lamenta a contaminação do templo
de Jerusalém: “Senhor, as nações entraram no teu domínio e contaminaram o teu
templo.” — 10. Modicus et non videbitis me, “pouco tempo passará e não me
vereis mais”, S. João Ev. XVI, 16; Beatriz responde: “e novamente passará pouco
tempo e me vereis.” Provável alusão ao pouco tempo que a Santa Sé teria ficado
em Avinhão. — 36. Sopa, a sopa que, em sinal de expiação, o homicida comia
sobre o túmulo do assassinado. — 43. Um quinhentos dez cinco, um DVX, isto é,
um chefe, um capitão, enviado de Deus, o qual punirá a Cúria Romana e o rei da
França. — 47. Esfinge, que propôs o enigma a Édipo. — Têmis, que respondeu em
forma obscura a Deucalião, que a foi consultar. — 49-51. Náiades, ninfas das
fontes. — 61. A primeira alma, etc. Adam esperou cinco mil anos a vinda de
Jesus Cristo, que tomou sobre si o seu pecado. — 67. Elsa, confluente do Arno.
— 112. Tigre e Eufrates etc., o Letes e o Eunoé pareciam esses dois rios; pois
nasciam na mesma fonte e, depois, se afastavam, aos poucos, um do outro.
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