Monergismo.com– “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9)
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João Calvino
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
COLOSSENSES 1:1-8
1. Paulo, umapóstolo de Jesus Cristo
pela vontade de Deus, e Timóteo
nosso irmão,
1. Paulus apostolus Iesu Christi,
per voluntatem Dei, et Timotheus
frater,
2. Aos santos e irmãos fiéis em
Cristo, que estão emColossos: Graça
a vós, e paz, da parte de Deus nosso
Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
2. Sanctis qui sunt Colossis, et
fidelibus fratribus inChristo; gratia
vobis et pax a Deo et Patre nostro,
et Domino Iesu Christo.
3. Graças damos ao Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, orando
sempre por vós,
3. Gratias agimus Deo et Patri
Domini nostri Iesu Christi, semper
pro vobis orantes,
4. Porquanto ouvimos da vossa fé
em Cristo Jesus, e do amor que
tendes para comtodos os santos;
4. Audita fide vestra, quae est in
Christo Iesu, et caritate erga omnes
sanctos,
5. Por causa da esperança que vos
está reservada nos céus, da qual já
antes ouvistes pela palavra da
verdade do evangelho;
5. Propter spemrepositamvobis in
coelis, de qua prius audistis, per
sermonem veritatis, nempe
Evangelii,
6. Que já chegou a vós, como
também está em todo o mundo; e já
vai produzindo fruto, como também
emvós, desde o dia emque ouvistes
e conhecestes a graça de Deus em
verdade:
6. Quod ad vos pervenit: quemadmodum
et in universo mundo
fructificat et propagatur, sicut
etiamin vobis, ex quo die audistis,
et cognovistis gratiam Dei in
veritate.
7. Como também aprendestes de
Epafras, nosso amado conservo, que
para vós é umfielministro de Cristo;
7. Quemadmodum et didicistis ab
Epaphra, dilecto converso nostro,
qui est fidelis erga vos minister
Christi:
8. O qual nos declarou também o
vosso amor no Espírito.
8. Qui etiam nobis manifestavit
caritatemvestramin Spiritu.
1 E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em outubro/2007.
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1. Paulo, um Apóstolo. Já expliquei, em repetidas ocasiões, o propósito de tais
dedicatórias. Como, contudo, os COLOSSENSES nunca tinham visto-o, e
por essa causa sua autoridade não estava ainda tão firmemente estabelecida
entre eles a ponto de fazer seu nome privado por si mesmo suficiente, ele
afirma que é um Apóstolo de Cristo separado pela vontade de Deus. Disso
seguia-se que ele não agia imprudentemente ao escrever a pessoas que não o
conheciam, considerando que estava desempenhando a função de embaixador
que Deus tinha lhe confiado. Pois ele não estava ligado a uma Igreja
meramente, mas seu Apostolado se estendia a todas. O termo santos que aplica
a eles é muito honroso, mas ao chamá-los de irmãos fiéis, ele os encoraja ainda
mais a ouvi-lo desejosamente. Quanto às outras coisas, explicações podem ser
encontradas nas Epístolas precedentes.2
3. Graças damos a Deus. Ele louva a fé e amor dos colossenses, para que isso
possa encorajá-los à maior diligência e constância da perseverança. E mais, ao
demonstrar que tem uma persuasão desse tipo com respeito a eles, ele procura
a consideração amigável deles, para que possam ser mais favoravelmente
inclinados e ensináveis para receber a sua doutrina. Devemos sempre observar
que ele faz uso de ação de graças no lugar de congratulação, pelo qual nos
ensina, que em todas as nossas alegrias devemos prontamente chamar à
lembrança a bondade de Deus, visto que tudo o que é agradável e prazeroso
para nós, é uma benignidade conferida por ele. Além disso, ele nos admoesta,
por seu exemplo, a reconhecer com gratidão não meramente aquelas coisas
que o Senhor nos confere, mas também as que ele confere aos outros.
Mas por quais coisas ele dá graças ao Senhor? Pela fé e amor dos colossenses.
Ele reconhece, portanto, que ambas são conferidas por Deus: de outra forma
a gratidão seria fingida. E o que temos que não seja por meio de sua
liberalidade? Se, contudo, mesmo os menores favores chegam até nós dessa
fonte, quanto mais esse mesmo reconhecimento deve ser feito com referência
a esses dois dons, nos quais consiste a soma inteira da nossa excelência?
Ao Deus e Pai. Entenda a expressão assim – A Deus, que é o Pai de Cristo. Pois
não é lícito para nós reconhecer qualquer outro Deus, que não aquele que se
manifestou a nós em seu Filho. E essa é a única chave para abrir a porta para
nós, se estivermos desejosos de ter acesso ao Deus verdadeiro. Por esse
motivo, também, ele é um Pai para nós, pois nos aceitou em seu unigênito
Filho, e nele também apresenta seu favor paternal para a nossa contemplação.
Sempre por vós. Alguns explicam isso assim – Nós damos graças a Deus sempre por
vós, isto é, continuamente. Outros explicam que significa – Orando sempre por vós.
A frase pode ser interpretada dessa forma também: “Sempre que oramos por
vós, ao mesmo tempo damos graças a Deus”; e esse é o significado simples:
“Damos graças a Deus, e ao mesmo tempo oramos”. Com isso ele indica que
a condição dos crentes nunca é perfeita neste mundo, de forma a não ter,
2 Nota do tradutor: Infelizmente, não temos todos os comentários de Calvino em português. Eis um belo motivo de oração!
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invariavelmente, algo em falta. Pois mesmo o homem que começou
admiravelmente bem, pode ficar aquém em centenas de ocasiões todo o dia; e
devemos estar sempre fazendo progresso, enquanto ainda estamos no
caminho. Tenhamos, portanto, em mente que devemos nos regozijar nos
favores que já recebemos, e dar graças a Deus por eles de tal maneira, que ao
mesmo tempo buscamos dele perseverança e progresso.
4. Tendo ouvido da vossa fé. Esse era um meio de provocar seu amor para com
eles, e sua preocupação pelo bem-estar deles, quando ouviu que eram distintos
pela fé e amor. E, inquestionavelmente, os dons de Deus que são tão excelentes
deveriam ter tal efeito sobre nós, a ponto de instigar-nos a amá-los onde quer
que apareçam. Ele usa a expressão fé em Cristo, para que possamos sempre ter
em mente que Cristo é o objeto apropriado da fé.
Ele emprega a expressão amor para com os santos, não com a visão de excluir os
outros, mas porque, na proporção em que alguém está unido conosco em
Deus, devemos aceitá-lo ainda mais proximamente com especial afeição. O
amor verdadeiro, portanto, se estenderá à humanidade universalmente, porque
todos eles são nossa carne, e criados à imagem de Deus (Gênesis 4:6); mas com
respeito a graus, começará com aqueles que são da família da fé (Gálatas 6:10).
5. Por causa da esperança que vós está reservada nos céus. Pois a esperança da vida
eterna nunca será inativa em nós, não produzindo assim amor em nós. O
motivo é que, necessariamente, aquele que está plenamente persuadido que
um tesouro da vida está reservado para ele nos céus aspirará aquele lugar,
desdenhando deste mundo. A meditação, contudo, sobre a vida celestial
provoca nossas afeições tanto ao louvor a Deus, como aos exercícios de amor.
Os sofistas pervertem essa passagem com o propósito de enaltecer os méritos
das obras, como se a esperança da salvação dependesse das obras. O
raciocínio, contudo, é fútil. Pois não se segue que, porque a esperança nos
estimula a aspirar viver retamente, ela esteja portanto fundamentada sobre as
obras, visto que nada é mais eficaz para esse propósito do que a bondade
imerecida de Deus, que elimina absolutamente toda confiança nas obras.
Há, contudo, um exemplo de metonímia3 no uso do termo esperança, visto que é
usado pela coisa que se espera. Porque a esperança que está em nosso coração
é a glória pela qual esperamos no céu. Ao mesmo tempo, quando ele diz, que
existe uma esperança que para nós está reservada nos céus, ele quer dizer que os
crentes deveriam sentir-se seguros quanto à promessa de felicidade eterna,
igualmente como se já tivessem um tesouro reservado num lugar particular.
Da qual já antes ouvistes. Como a salvação eterna é uma coisa que ultrapassa a
compreensão do nosso entendimento, ele adiciona que a segurança dela foi
trazida aos colossenses por meio do evangelho; e ao mesmo tempo diz no
3 Nota do tradutor: Metonímia é uma figura de linguagem baseada no uso de um nome no lugar de outro, pelo emprego da parte pelo
todo, do efeito pela causa, do autor pela obra, do continente pelo conteúdo etc. (p.ex.: beber um copo no lugar de beber a cerveja do
copo).
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princípio que ele não irá apresentar algo novo, mas tem meramente em vista
confirmá-los na doutrina que tinham recebido anteriormente. Erasmo
traduziu assim – a palavra verdadeira do evangelho. Também estou bem ciente que,
de acordo com o idioma hebraico, o genitivo é freqüentemente usado por
Paulo no lugar de um epíteto; mas as palavras de Paulo aqui são mais
enfáticas. Pois ele chama o evangelho, kay ejxoch>n, (com o objetivo de eminência),
de palavra da verdade, com a visão de colocar honra sobre ele, para que eles
possam se aderir mais leal e firmemente à revelação que tinham derivado
dessa fonte. Assim, o termo evangelho é introduzido por aposição.4
6. Como também em todo o mundo produz fruto. Isso tem uma tendência tanto de
confirmar como confortar os piedosos – ver o efeito do evangelho em todo o
lugar, reunindo muitos para Cristo. É verdade que a fé dele não depende do
seu sucesso, como se nós devêssemos crer no evangelho com base no fato de
muitos crerem. Mesmo que o mundo inteiro desabasse, o próprio céu caísse, a
consciência de um homem piedoso não deve hesitar, pois Deus, em quem ela
está fundamentada, permanece verdadeiro. Isso, contudo, não impede nossa
fé de ser confirmada sempre que percebe a excelência de Deus, que
indubitavelmente se mostra com maior poder na proporção do número de
pessoas que são ganhas para Cristo.
Em adição a isso, na multidão dos crentes naquele tempo havia uma
contemplação do cumprimento das muitas predições que estendiam o reino
de Cristo do oriente ao ocidente. É um auxílio trivial ou comum à fé, ver
realizado diante dos nossos olhos o que os profetas há tempos tinham predito
quanto à extensão do reino de Cristo por todas as nações do mundo? Não
existe nenhum crente que não experimente do que estou falando. Paulo, dessa
forma, tinha como objetivo encorajar ainda mais os colossenses com essa
declaração, pois, vendo em vários lugares o fruto e progresso do evangelho,
eles poderiam abraçá-lo com maior zelo. Aujxano>menon, que traduzi como
propagatur, (é propagada) não aparece em algumas cópias; mas, por sua adaptação
ao contexto, escolhi não omiti-la. Parece também a partir dos comentários dos
antigos que essa leitura foi sempre a mais geralmente recebida.
Desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça. Aqui ele os louva por causa de sua
docilidade, visto que imediatamente aceitaram a sã doutrina; e louva-os por
causa de sua constância, por perseverarem nela. É também com propriedade
que a fé do evangelho é chamada o conhecimento da graça de Deus; pois ninguém
jamais provou do evangelho, senão o homem que sabe estar reconciliado com
Deus, e se apegou à salvação que está em Cristo.
Em verdade significa verdadeiramente e sem fingimento; pois como tinha
anteriormente declarado que o evangelho é verdade indubitável, assim declara
agora que ele tinha sido puramente administrado sobre eles, e isso por Epafras.
4 Nota do tradutor: Aposição é uma figura que consiste em pôr um substantivo, ou uma locução substantiva, seguidamente a outro
sem conjunção e separados por vírgula, servindo um de qualificativo ao outro (p.ex.: Brasília, capital da República; Pedro, o
Grande).
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Pois embora todos ostentem pregar o evangelho e, todavia, ao mesmo tempo
existam muitos maus obreiros (Filipenses 3:2), por cuja ignorância, ambição ou
avareza a pureza do evangelho é adulterada, é de grande importância que os
ministros fiéis sejam distinguidos do restante. Porque não é suficiente
sustentar o termo evangelho, a menos que conheçamos que esse é o
evangelho verdadeiro – o que foi pregado por Paulo e Epafras. Por
conseguinte, Paulo confirma a doutrina de Epafras dando-lhe sua aprovação,
para que possa induzir os colossenses a aderir a ela, e possa, pelos mesmos
meios, chamá-los de volta daqueles licenciosos que se esforçavam para
introduzir doutrinas estranhas. Ele ao mesmo tempo dignifica Epafras com
uma distinção especial, para que possa ter mais autoridade entre eles; e por
fim, apresenta-o aos colossenses num aspecto afável, dizendo que ele
testemunhou a Paulo sobre o amor deles. Em todo lugar Paulo faz desse seu
objetivo particular, para que possa, por sua recomendação, tornar aqueles que
ele sabe servirem fielmente a Cristo, mui queridos às Igrejas; como, por outro
lado, os ministros de Satanás são totalmente solícitos em desviar dos pastores
fiéis, por representações desfavoráveis, a mentes dos simples.
Amor no Espírito. Penso significar amor espiritual, de acordo com a visão de
Crisóstomo, com quem, contudo, não concordo na interpretação das palavras
precedentes. Agora, o amor espiritual é de tal natureza que não tem olhos para o
mundo, mas é consagrado ao serviço da piedade, e tem, por assim dizer, uma
raiz interna, enquanto as amizades carnais dependem de causas externas.
Fonte: Extraído de traduzido de Commentary on the
Epistle to the Colossians by John Calvin.
http://www.monergismo.com/wp-content/uploads/colossenses1-1-8_calvino.pdf