Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9)
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1
Vincent Cheung
Título do original:
Preach the Word
Copyright © 2002 por Vincent Cheung. Todos os direitos reservados. Esta publicação não
pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida no todo ou em parte sem prévia autorização
do autor ou dos editores.
Publicado originalmente por
Reformation Ministries International (www.rmiweb.org)
PO Box 15662, Boston, MA 02215, USA
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto.
Primeira edição em português:
Agosto de 2005.
Direitos para o português gentilmente cedidos pelo autor ao site
Monergismo.com.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da
Nova Versão Internacional(NVI), © 2001,
publicada pela Editora Vida, salvo indicação em contrário.
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SUMÁRIO
PREFÁCIO.................................................................................................................................................................. 3
1. OMANDATO DIVINO......................................................................................................................................... 4
2. PREGUE A PALAVRA......................................................................................................................................... 5
3. SOBRE OMÉTODO DE ENSINO...................................................................................................................... 9
4. APRENDENDOFAZENDO...............................................................................................................................13
5. O USO DE ESTÓRIAS........................................................................................................................................17
6. UMMINISTÉRIO ABRANGENTE..................................................................................................................22
7. NOTAS E ENTREGA..........................................................................................................................................24
8. LITERATURA CRISTÃ.....................................................................................................................................27
9. REFUTE! REPREENDA! RELEMBRE! .........................................................................................................30
10. DEUS DÁ O CRESCIMENTO........................................................................................................................33
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PREFÁCIO
Pregue a Palavra
era originalmente um ensaio contínuo sobre pregação e educação. Sendo
assim, pode ser aparente ao leitor que cada capítulo tem uma íntima conexão com o anterior.
A transição entre cada ponto é natural e lógica. Dividir o ensaio em diferentes capítulos,
portanto, arrisca comprometer o senso de continuidade inerente em sua forma original.
Todavia, a convenção recomenda atribuir títulos de capítulo a cada seção, e assim eu o fiz,
separando as várias porções do texto em suas divisões lógicas. Como o ensaio deveria ser
dividido deve ficar óbvio, logo de início, ao leitor atento do texto original. Para preservar a
possibilidade de ler o texto como um todo contínuo, confiando nas transições lógicas, antes
do que nos títulos dos capítulos, eu deixei o texto sem alterações.
Assim, cada capítulo não tem a intenção de permanecer sozinho, mas como uma continuação
do capítulo anterior. Contudo, eu suspeito que as divisões dos capítulos serão úteis para
muitos leitores, visto que os indivíduos menos cuidadosos, e aqueles que se apressam nos
materiais escritos num ritmo além de sua capacidade, freqüentemente falham em captar os
pensamentos e intenções do autor.
Esse ensaio, agora apresentado como um livro, é estruturado ao redor de 2 Timóteo 4:1-3, e
discute a pregação e a educação cristã. No processo, ele critica as teorias seculares sobre o
método de aprendizagem, e exige um ministério de ensino e escrita abrangente da parte dos
pregadores do evangelho. Que os capítulos seguintes possam servir para despertar o pregador
para a seriedade de sua tarefa, e o crente para a sua responsabilidade de estudar as palavras da
Escritura com toda diligência e reverência.
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1. O MANDATO DIVINO
Invocar a deidade para testemunhar uma comissão formal ou um juramento é uma coisa séria,
e, portanto, devemos perceber um dever da mais solene natureza sagrada quando Paulo
começa o capítulo final de 2 Timóteo com as palavras: “Na presença de Deus e de Cristo
Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o
exorto solenemente...” (2 Timóteo 4:1). Sejam quais forem as próximas palavras, é certo que
alguém que teme a Deus e respeita a autoridade apostólica ficará totalmente alerta com um
prefácio tão solene.
Esse encargo (NIV)
1é dado “na presença de Deus e de Cristo Jesus”, fazendo com que
Timóteo se tornasse extremamente consciente da examinação de Deus dos seus pensamentos
e ações, à medida que ele recebe e cumpre o juramento feito sobre ele. Trazendo um foco
cristológico para a invocação da deidade, Paulo designa Cristo como aquele que “há de julgar
os vivos e os mortos”. O texto, dessa forma, lembra Timóteo que ele permanece responsável
a Cristo em sua função como o juiz de todos, e o coloca sob esse juramento solene por “sua
manifestação” e “seu Reino”. Esses termos ressoam com o tema escatológico nessa segunda
carta a Timóteo.
Dizer que Cristo “julgará os vivos e os mortos” se tornou uma “fórmula semi-credal”
2
familiar na história da igreja primitiva. Por exemplo,
A Epístola de Barnabécontém a
seguinte declaração: “Se o Filho de Deus, que é Senhor e
julgará os vivos e os mortos, sofreu
para nos dar a vida por meio de seus ferimentos, acreditamos que o Filho de Deus não podia
sofrer, a não ser por causa de nós”.
3Policarpo, que segundo a tradição foi um discípulo de
João, escreveu aos filipenses dizendo: “Por causa disso, cinjam suas cinturas...acreditado
naquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo da morte, e lhe deu a glória, e um trono a
sua direita. Por ele todas as coisas no céu e na terra estão subordinadas..... ele vem como o
juiz dos viventes e dos mortos
...”.4Em adição, o Credo dos Apóstolos afirma: “Ele há de vir
julgar os vivos e os mortos”.
Cristo julgará tanto aqueles que estiverem vivos em “sua manifestação”, bem como aqueles
que tiverem morrido antes desse tempo, e que serão ressuscitados para julgamento. Ninguém
escapa de sua autoridade e domínio — todos são responsáveis diante de Cristo pelo que eles
crêem e fazem, mesmo quando eles negam isso no presente.
No mínimo, devemos dizer que tal apelo ao testemunho divino não ocorre casualmente, mas é
reservado somente para questões de extrema importância e urgência. Sabendo que tudo isso
fez com que Timóteo tomasse o que se segue seriamente, esse é também o modo como
devemos considerar o encargo que Paulo dá a Timóteo no próximo versículo.
1
Nota do tradutor: As citações desse livro, quando não informadas, são todas da NVI (Nova Versão
Internacional). O autor usa a NIV (New Internacional Version), a qual não é uma versão idêntica à NVI.
Portanto, a indicação NIV durante o presente livro indica os casos nos quais essas diferenças ocorrem, onde eu
forneço uma tradução diretamente da NIV.
2
Gordon D. Fee, New International Biblical Commentary: 1 and 2 Timothy, Titus; Peabody,
Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 1988; p. 284.
3
Early Christian Writings: The Apostolic Fathers; New York: Penguin Putnam Inc., 1987; p. 167.
4
Ibid., p. 119.
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5
2. PREGUE A PALAVRA
Imediatamente após a invocação de Deus como testemunha, o versículo 2 diz: “Pregue a
Palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a
paciência e doutrina”. Tendo criado uma ávida expectação e até mesmo alguma apreensão na
mente do leitor, Paulo anuncia o que é que ele considera tão importante. “Pregue a Palavra”,
ele diz. Sem dúvida a tendência comum em cristãos professos de hoje é rebelar-se contra tal
mandamento, que o velho apóstolo ousou sugerir que a comunicação verbal das verdades
bíblicas é o ministério supremo. Nós devemos, portanto, gastar um determinado tempo para
absorver o significado e as implicações do que é pregar.
Uma análise completa da palavra traduzida por
pregarpode necessitar de uma discussão mais
longa do que aquela que é desejável nessa ocasião. Kittel fez tal estudo, e eu me oponho a
várias das reivindicações principais de seu extenso artigo.
5O “proclamar segundo a maneira
de um arauto” de Thayer
6é padrão, mas não significa muito para aqueles que falham em
entender o que
proclamar e arautoimplicam.
Kenneth Wuest explica: “Imediatamente [a palavra] recordou à mente [de Timóteo] o Arauto
Imperial, porta-voz do Imperador, proclamando numa maneira formal, grave e autoritária o
que deve ser ouvido, a mensagem que o Imperador lhe deu para anunciar... Esse deve ser o
padrão para o pregador hoje. Sua pregação deve ser caracterizada por aquela dignidade que
vem da consciência do fato que ele é um arauto oficial do Rei dos reis. Isso deveria ser
acompanhado por aquela nota de autoridade que ordena o respeito, a cuidadosa atenção e a
reação apropriada dos ouvintes. Não há lugar para palhaçadas no púlpito de Jesus Cristo”.
7
Essa é uma descrição geral excelente de pregação, e prenuncia algo do que direi nas próximas
páginas. Contudo, eu pretendo, nesse estudo, não me confinar no que o termo significa
estritamente. Ao invés disso, usarei o significado comum para a palavra
pregarcom relação
ao seu uso no inglês. Essa não é uma forma pobre se admitida explicitamente, e é feita de
forma que eu possa expor de uma maneira geral tudo o que se quer dizer quando nos
referimos a pregação, ensino e educação.
Didaskalia
, do grego, é traduzida por ensinoem 1 Timóteo 5:17, e alguém pode discutir seu
significado como oposto àquele designado por
pregar. Sem ser ignorante das distinções entre
essas e outras palavras relacionadas, nosso estudo continuará com o todo da instrução cristã
em mente, quer na pregação, quer no ensino. Em outras palavras, eu estou interessado em
discutir o que é comum ao escopo inteiro das instruções cristãs. Isso nos concede a
oportunidade de introduzir palavras tais como
sermões e palestrastambém. O leitor pode
considerar isso como usando 2 Timóteo 4:2 como um ponto de partida para discutir diversos
assuntos amplos que se aplicam a todos os discursos cristãos.
Muitos consideram um sermão como diferente de uma palestra. O primeiro é o que alguém
ouve na igreja de um pregador — a estrutura retórica seguida, o conteúdo como qual é
investido e o intento baseado no qual ele é entregue, são todos muito diferentes de uma
5
Gerhard Kittel, ed., Theological Dictionary of the New Testament, Vol. 3; Grand Rapids, Michigan:
William B. Eerdmans Publishing Company, 1965; p. 697-714.
6
Joseph H. Thayer, Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament; Peabody, Massachusetts:
Hendrickson Publishers, Inc., 2002 (original: 1896); p. 346.
7
Kenneth S. Wuest, The Pastoral Epistles in the Greek New Testament; Grand Rapids, Michigan: William B.
Eerdmans Publishing Company, 1999 (original: 1952), p. 154.
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palestra. Sermões nem mesmo se assemelham, e pensamos que não deveriam, às palestras
entregues em seminários cristãos. Nos seminários, o professor
palestraaos seus alunos de
forma que eles possam no futuro
pregaràs suas congregações. Alguns podem adicionar que
as palestras tendem a serem tediosas, enquanto que os sermões podem pelo menos
ocasionalmente serem interessantes, e eles são interessantes na extensão em que eles não se
assemelham às palestras teológicas. Contudo, essa distinção é falsa, e perpetua um
pensamento obscuro nas congregações bem como a mentalidade anti-intelectualista que
procura dar-lhe justificação.
Visto que estarei interagindo com um ponto que Jay Adams faz em seu livro
Preaching with
Purpose
[Pregando com Propósito], devemos começar primeiramente deixando-lhe definir
seu uso da palavra
pregação. A explicação é útil para ilustrar algo declarado logo acima, e,
portanto, eu o citarei com certa extensão:
Estritamente falando, as principais palavras bíblicas traduzidas por “pregação” não
correspondem exatamente àquela atividade a qual afixamos o rótulo. Elas são de certa
forma limitadas em escopo. Essas palavras,
kerusso e euangelizo, são usadas no Novo
Testamento para descrever o ato de “proclamar” e “anunciar o evangelho”. Elas se
referem a atividades evangelísticas. A primeira sempre tem a ver com proclamação
pública das boas novas, enquanto que a última pode ser usada para descrever o ato de
fazer o evangelho conhecido tanto a grupos como a indivíduos não-salvos...
Por outro lado, a palavra
didasko, traduzida como “ensinar”, corresponde mais ao
nosso uso moderno da palavra pregar, e tem a ver com a proclamação da verdade
entre aqueles que já crêem no evangelho... Embora às vezes
didaskopareça também
ser limitada ao falar evangelístico, e ocasionalmente seja possível que
kerussopossa
se referir à pregação aos santos...
8
Há, então, dois tipos de pregação (por causa de um uso profundamente impregnado da
palavra inglesa, eu usarei o termo “pregação” para cobrir tanto o falar evangelístico
como o pastoral): a pregação evangelística (proclamar, anunciar as boas novas) e a
pregação pastoral ou de edificação (ensino).
9
Isso não somente nos fornece o entendimento de Adams do uso bíblico dos termos, mas
também proporciona justificação para o nosso procedimento presente, que é discutir pregação
em geral como se referindo a todas as oratórias cristãs — quer com propósitos evangelísticos,
quer para instruir e edificar os crentes.
Então Adams explica a diferença entre palestrar e pregar dessa forma: “[Na palestra] o pregar
faz um bom trabalho de considerar a exegese histórico-gramatical da passagem que está
sendo pregada, considera-a teologicamente e retoricamente, e então — simplesmente diz à
sua congregação o que ela significa. Sua resposta, e conseqüentemente a deles também, é
dizer: ‘Bem, agora eu a entendo’, e é isso! Isso não é pregação. A verdadeira pregação faz
tudo descrito acima, mas ela também identifica o
telos(propósito) da passagem, constrói a
8
Adams cita nosso texto, 2 Timóteo 4:2, como um exemplo onde kerussosignifica a “pregação” que é
direcionada aos crentes. O versículo não se refere somente à pregação evangelística, visto que o contexto dita de
outra forma.
9
Jay E. Adams, Preaching With Purpose; Grand Rapids, Michigan: Zondervan Publishing House, 1982; p. 5-6.
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mensagem ao redor dele, e chama a congregação a uma resposta que seja apropriada a ele.
Ele trabalha para mudança”.
10
Será instrutivo ver o que está errado com o exposto acima. Adams reivindica que a palestra
tem como objetivo dar entendimento, enquanto que a pregação dá
tantoentendimento, como
também “trabalha para mudança”. Eu recuso essa forma de distinção entre os dois visto que
ele ignora os significados ordinários de ambas as palavras no inglês, constrói suas próprias
definições, e apresenta-as novamente para destacar a diferença.
Merriam-Webster's Collegiate Dictionary
11 define a palavra pregarcomo “entregar um
sermão” e por
sermãoquer-se dizer “um discurso religioso entregue em público, geralmente
por um clérigo, como uma parte de um serviço de adoração”. Ele define
palestracomo “um
discurso dado diante de uma audiência ou classe especialmente para instrução”. De acordo
com essas definições, um
sermão é meramente uma palestracom intento e conteúdo
religioso, assim, fazendo do primeiro um sub-sistema do último, e não um tipo totalmente
diferente de discurso. Adams, portanto, meramente impõe sobre nós suas definições privadas
desses termos.
Também, note que até mesmo quando o pregador diz à congregação o que o texto significa
numa palestra, Adams implica que ele esconde de sua audiência a pesquisa realizada nos
bastidores. Os ouvintes são privados do seu “considerar a exegese histórico-gramatical da
passagem que está sendo pregada”, bem como dos assuntos teológicos e retóricos. Ele
“considera” os materiais, mas não os apresenta a eles. Mas essas coisas não são benéficas
para os crentes aprenderem?
Minha definição de uma palestra, e assim, de um sermão também, permite a inclusão da
pesquisa de fundo na entrega, bem como os elementos comuns tais como uma exposição do
tópico ou do texto. Ela tem como objetivo informar e persuadir, e certamente “trabalhar para
mudança”. Todavia, ela ainda é uma palestra em cada aspecto — conteúdo, estrutura, estilo e
assim por diante. Contudo, reconhecemos que a maioria dos
insightsteológicos e exegéticos
falham em se tornar parte do produto final. Isso é somente devido à sensibilidade para com os
ouvintes menos avançados, e também pela impossibilidade de incluir todas as informações
relevantes numa apresentação relativamente breve. Tal conteúdo nunca é excluído como uma
regra, mas somente devido às restrições necessárias.
Em seu livro sobre palestrar, Donald Bligh escreve: “Na política as palestras são chamadas de
discursos. Nas igrejas elas são chamadas de sermões. Chame-as do que você quiser; de fato,
elas são exposições mais ou menos contínuas de um orador que quer que a audiência aprenda
algo”.
12Assim, eu não estou sozinho em declarar que um sermão é uma palestra. Mas até
mesmo Bligh impõe restrições às palestras que são injustificadas.
Se afirmar que uma palestra tem a intenção de que a audiência “aprenda algo” é dito como
uma restrição, então isso deve ser negado. Porque “aprender”, para usar o primeiro
significado do
Merriam-Webster's, ou seja, “ganhar conhecimento ou entendimento de, ou
habilidade, em estudo, instrução, ou experiência” é muito restrito. Mas o terceiro significado
10
Ibid., p. 43.
11
Merriam-Webster's Collegiate Dictionary, Tenth Edition; Springfield, Massachusetts: Merriam-Webster, Inc.,
2001.
12
Donald A. Bligh, What's The Use of Lectures?; San Francisco, California: Jossey-Bass Publishers, 2000; p. 4.
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é aceitável: “vir a conhecer”. A palestra tem a intenção de comunicar algo, de forma que a
audiência possa “vir a conhecer” os pensamentos do orador. Nós ignoraremos os outros
defeitos da obra de Bligh por ora.
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3. SOBRE O MÉTODO DE ENSINO
Uma palestra não é limitada à apresentação de fatos, mas também de argumentos e
exortações. Isso é frequentemente feito até mesmo nas salas de aula seculares, assim, é
estranho como alguém possa definir uma palestra de outra forma. Muitos são preconceituosos
contra algo que carregue uma conotação acadêmica, como a palavra
palestracarrega, e
assim, eles a definem de uma forma que a torne vulnerável às críticas deles. Eles protestam
contra minha definição de sermão como uma palestra porque isso torna a pregação muito
acadêmica em natureza. Mas essa é minha afirmação, que o sermão deve ser mais acadêmico
do que comumente concebido. Não é suficiente fornecer à audiência somente as descobertas
mais superficiais de nossa pesquisa bíblica.
Os pregadores devem aplicar aos seus sermões a recomendação de Mortimer Adler com
respeito à palestra:
Sempre arrisque falar acima das cabeças deles!... Não prejudicará se algumas das
coisas que você disser possam estar além do alcance delas. É muito melhor para eles
ter o senso de que tiverem sucesso em adquirir alguma iluminação pelo esforço deles
de captar (mesmo que tenham também o senso de que algumas coisas que deveriam
ser entendidas escaparam deles) do que se eles se assentassem ali se sentindo
insultados pela maneira condescendente na qual você lhes fala.
Os livros verdadeiramente grandes, eu tenho dito repetidamente, são os poucos livros
que estão acima da cabeça de todos durante o tempo todo. Isso é o porquê eles são
interminavelmente relidos como instrumentos a partir dos quais você pode continuar
aprendendo mais e mais a cada nova leitura. O que você chega a entender cada vez é
um passo ascendente no desenvolvimento de sua mente; assim também é sua
compreensão de que resta ainda algo a ser entendido por esforço adicional da sua
parte.
... O que é verdade de livros para serem lidos, é verdades de palestras para serem
ouvidas. As únicas palestras que são intelectualmente proveitosas para alguém ouvir
são aqueles que aumentam o conhecimento e alargam o entendimento de uma
pessoa.
13
Pregar é dar uma palestra, e deve ser algo intelectualmente maduro em conteúdo. Certamente,
ao orador é permitido ajustar o conteúdo ao nível de entendimento atual da audiência e outras
limitações (tal como atenção), mas não ao ponto em que se torne inteiramente confortável, e
assim, não promova nenhum crescimento neles para acomodar mais materiais avançados no
futuro.
Embora para muitos seja anátema sugerir que a Bíblia ordena o crescimento intelectual, e
duma forma definitiva o equacione com a santificação, isso é deveras o que ela ensina:
“Portanto, deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos para a
maturidade” (Hebreus 6:1); “Quem se alimenta de leite ainda é criança, e não tem experiência
no ensino da justiça. Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício
13
Mortimer J. Adler, How to Speak, How to Listen; New York: Touchstone, 1983; p. 61-62.
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10
constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal” Hebreus 5:13-14);
“Irmãos, deixem de pensar como crianças. Com respeito ao mal, sejam crianças; mas, quanto
ao modo de pensar, sejam adultos” (1 Coríntios 14:20); “...e se revestiram do novo, o qual
está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador” (Colossenses 3:10).
Há muitas outras passagens relevantes disponíveis, mas procederemos agora a um exame e
refutação de diversas objeções e teorias alternativas, e no processo refinaremos nosso
entendimento da tarefa de pregação como tem sido estabelecida até aqui. Nós nos
depararemos com as idéias que as pessoas têm com respeito à pregação e educação que
resultarem de teorias seculares sobre educação, antes do que de modelos bíblicos.
Embora os professores ainda achem o palestrar indispensável na sala de aula, os modelos de
educação contemporânea tendem a favorecer o papel da discussão e da participação ativa.
Presumivelmente, isso estimula os estudantes ao pensamento original, mas o observador
honesto deve admitir que o que acontece como um pensamento criativo na sala de aula é mais
frequentemente tolice cultivada novamente.
Para citar o grande teólogo e educador J. Gresham Machen:
O estudante não graduado de hoje em dia está ouvindo que ele não precisa tomar
notas do que ele ouve na sala de aula, que o exercício da memória é uma coisa infantil
e mecânica, e que o que ele realmente tem de fazer no colégio é pensar por si mesmo
e unificar o seu mundo. Ele frequentemente faz um pobre negócio unificando o seu
mundo. E a razão é clara. Ele não tem sucesso em unificar o seu mundo pela simples
razão de que ele não tem nenhum mundo para unificar. Ele não adquiriu um
conhecimento de um número suficiente de fatos para ao menos aprender o método de
colocar os fatos juntos. Está sendo lhe dito para praticar o negócio de digestão mental;
mas o problema é que ele não tem alimento para digerir. O estudante moderno,
contrário ao que é dito, está sendo realmente privado de desejar fatos...
Nós professores levantamos de nossas mesas de professor, é dito, e começamos a
palestrar. É esperado que os estudantes indefesos não somente ouçam, mas tomem
notas... Tal sistema — assim a acusação corre — reprime toda originalidade e toda
vida... Uma quantidade de detalhes armazenadas na mente em si mesma não produz
um pensador; mas por outro lado, o pensamento é absolutamente impossível sem essa
quantidade de detalhe. E é justamente essa última operação impossível, de
pensamento sem os materiais de pensamento, que está sendo advogada pela pedagogia
moderna e sendo colocada em prática também pelos estudantes modernos... Na
presença dessa tendência, cremos que os fatos e o trabalho duro devem novamente
recuperar os seus direitos: é impossível pensar com uma mente vazia.
14
Tal ponto simples escapa de especialistas em educação. Machen publicou pela primeira vez o
seu livro em 1925. Os estudantes têm se tornado mais idiotas durante décadas, mas o sistema
continua a privá-los de informação prontamente disponível se eles apenas permitirem muitas
horas de palestras e leituras de compêndios.
Ao acima, eu adicionarei somente que até mesmo o próprio pensamento pode ser ensinado e
demonstrado através de palestras e compêndios. Por outro lado, numa sala de aula que
14
J. Gresham Machen, What is Faith?; Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1991 (original:
1925); p. 16-17, 19-20.
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11
favorece a discussão como um dispositivo pedagógico, não é, todavia, muito importante
discutir se os estudantes não conhecem algo sobre o assunto em pauta. Antes do que aprender
primeiro do instrutor, e então talvez refinar e até mesmo corrigir seu ensino, os estudantes
ignorantes são encorajados a fingirem ser especialistas.
O mesmo problema existe na igreja hoje. Os pregadores são ensinados a se focarem na
aplicação das verdades bíblicas, mas o problema é que tanto eles como as suas congregações
conhecem muito pouco sobre a Bíblia para que algo seja aplicado. Machen também disse
algo sobre isso:
Se o crescimento de ignorância é lamentável na educação secular, ele é dez vezes pior
na esfera da religião cristã e na esfera da Bíblia. As salas de aula da Bíblia de hoje
frequentemente evitam um estudo dos conteúdos reais da Bíblia, assim como eles
evitariam a pestilência ou a doença; para muitas pessoas na Igreja, a noção de pegar os
simples conteúdos históricos da Bíblia é uma idéia inteiramente nova.
Quando alguém é solicitado a pregar numa igreja, o pastor algumas vezes pede ao
pregador visitante para conduzir sua sala de aula da Bíblia, e algumas vezes lhe dá
uma dica de como a sala é ordinariamente conduzida. Ele diz que a torna muito
prática; que dá à classe dicas de como viver durante a semana seguinte. Mas quando
eu, da minha parte, conduzo tal sala de aula, eu mais enfaticamente não darei aos
membros dicas de como viver durante a semana seguinte... uma sala que não recebe
nada mais do que direções práticas está muito pobremente preparada para viver. E
assim, quando eu conduzo uma sala de aula, eu tento dar-lhes o que eles não adquirem
em outras ocasiões; eu tento ajudá-los a captar diretamente em suas mentes os
conteúdos doutrinários e históricos da religião cristã.
15
Minhas longas citações de Machen são justificadas por quão peculiar as visões que ele expõe
devem soar a muitos crentes. Mas eu não estou sozinho em pensar dessa forma, e certamente
não sou o primeiro a identificar o problema, nem o seu remédio.
A educação cristã não deve ser uma democracia, onde todos são considerados como tendo
idéias valorosas para contribuir; ela não é primariamente pragmática, onde alguém é
controlado pelo “dá-me algo que eu possa usar!”, mentalmente tão comum na audiência
influenciada secularmente. Mas nós estamos argüindo contra os sintomas aqui: o acusado real
é o anti-intelectualismo, do qual as idéias tolas sobre pregação e educação crescem, e a
solução é o intelectualismo bíblico.
Brookfield e Preskill produziram um volume chamado
Discussion as a Way of Teaching:
Tools and Techniques for Democratic Classrooms
.16O título revela que “a discussão como
um caminho de ensino” é governada por e pressupõe a democracia como um ideal, e aplica-a
até mesmo à aquisição de conhecimento. Contudo, o conhecimento cristão é baseado na
revelação e autoridade, não na democracia. Nem todos têm direito à sua opinião. Nós temos
que crer no que Deus nos diz para crer, e muitos sofrerão a condenação eterna por crer nas
coisas erradas. Além do mandamento bíblico para obedecer e ouvir os seus líderes espirituais,
a maioria dos cristãos está automaticamente excluída de falar muito na igreja devido às suas
crenças errôneas. Eles devem permanecer quietos, e aprender. Em conexão com isso, aquelas
15
Ibid., p. 20-21.
16
Stephen D. Brookfield and Stephen Preskill,Discussion as a Way of Teaching: Tools and Techniques
forDemocratic Classrooms
; San Francisco, California: Jossey-Bass Publishers, 1999.
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12
sessões de estudos da Bíblia que permitem expressões irrestritas das opiniões de todo mundo
são muito destrutivas.
Sem a troca de idéias na sala de aula, se não na igreja, como os estudantes têm que
supostamente interagir com outras idéias além daquelas expostas pelo professor? A discussão
democrática entre colegas incompetentes é a pior forma de responder a essa questão. Por que
não ouvir mais de um professor palestrando sobre o mesmo assunto? Ou porque não ler
livros-textos de especialistas no campo?
Robert Hutchins chama a troca de idéias efetuada através de obras intelectuais produzidas na
historia ocidental de “The Great Conversation” [A Grande Conversação]
17. Tal conversação é
maior do que qualquer uma que possa acontecer nas salas de aula de cursos de colégios. Meu
conselho é desenvolver pensadores cristãos: fale menos
18, leia a Bíblia e as grandes obras
teológicas, e leia os clássicos.
17
The Great Conversation; Encyclopedia Britannica, Inc., 1994 (original: 1952); p. 46-73.
18
Veja Provérbios 10:19, 13:3, 15:2, 17:27, 21:23; Eclesiastes 5:2; Tiago 1:26, 3:2.
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4. APRENDENDO FAZENDO
Outro modelo educacional favorito é “aprendendo fazendo”, ou aprender por experiência.
Para aprender dessa forma, alguém deve interagir com o objeto do qual ele procura
conhecimento, seja ele um esforço atlético, um experimento científico, uma situação social
ou a vida em geral. Através dos desafios e
feedbacksde tais experiências, o estudante
supostamente deriva princípios apropriados para retenção, os quais ele pode aplicar a outras
situações similares.
Este método de aprendizagem é impossível. Alguém que não sabe como realizar uma dada
tarefa de forma alguma, não pode nem mesmo começar, a menos que alguém, através de
instruções verbais, seja na forma de palestras ou livros (ou outros equivalentes informais), lhe
conte os princípios elementares. Quando isso é feito, a pessoa não está mais aprendendo por
experiência, mas através de comunicação intelectual. Ele está meramente aplicando o que ele
aprendeu à experiência. E se ele pode ser informado sobre os fundamentos, ele talvez possa
aprender também as matérias mais avançadas de uma maneira similar.
Contudo, alguns podem objetar: mesmo que alguém deva primeiro aprender o suficiente para
começar, ele não aprende mais tarde a partir de sua experiência, enquanto aplicando o seu
conhecimento? O problema com isso é que ninguém pode, sem ter antes conhecimento ou
pressuposições relevantes, escolher dos muitos eventos e fatores singulares dentro das suas
experiências e derivar objetivamente proposições verdadeiras delas. Um número infinito de
proposições podem ser derivadas de cada experiência, e o que uma pessoa “aprende” de cada
uma dessas depende de sua cosmovisão, já pressuposta. A mesma série de circunstâncias
pode instilar paciência num, e cinismo noutro.
Arthur Holmes aponta: “..supor ser a própria experiência não-analisada um professor todocompetente
pressupõe uma teoria empirista de conhecimento, que é hoje em dia altamente
suspeita. A visão do século XVIII de que podemos reunir dados fragmentados e aparecer com
generalizações e explicações causais simplesmente não suporta o exame detalhado. A
observação empírica não é inteiramente objetiva mas seletiva, guiada por suposições teóricas
e interesses pessoais. Isto se tornou evidente na obra recente sobre a história da ciência: e se a
experiência não é suficiente para a ciência, como ela pode ser suficiente para a educação?”.
19
Ele está correto com a qualificação de que o empirismo é “altamente suspeito” somente em
certos círculos acadêmicos, e permanece popular entre a população menos informada.
Geralmente leva muitos anos para que as idéias gotejem da desprezada “torre de marfim”—
que é na verdade o centro de comando do mundo —para aqueles que são desinteressados em
debates acadêmicos, e que falsamente se imaginam relativamente livres da influência dos
eruditos obscuros. Permanece que ninguém pode jamais aprender a partir da própria
experiência, mas todo observador traz sua cosmovisão inteira para a situação, e a avalia
através de suas pressuposições, que por sua vez, governam o modo como ele processa toda
informação encontrada.
Quando esta dificuldade é pressionada contra a educação secular, ela pode somente resultar
em completo cepticismo com respeito à realidade. Por outro lado, quando o cristão é
desafiado com tais assuntos, ele responde com a revelação verbal lhe dada pelo onipotente
19
Arthur F. Holmes, The Idea of a Christian College; Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans
Publishing Company, 1999 (revised: 1987; original: 1975); p. 89.
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criador: Deus. Todas as proposições dedutíveis da revelação divina são corretamente
consideradas conhecimento. Mas se é assim, o conhecimento vem da revelação e não da
dedução, nem da experiência.
Holmes, numa seção chamada, “Pragmatismo na Educação Experimental”, descreve a teoria
da aprendizagem por experiência da seguinte forma: “Experiência é uma imersão num
processo natural, ou senso de segurança desafiado por problemas imprevistos que demandam
solução... Todo aprendizado é, portanto, situacional... Aprender é aprender ajustar. Até
mesmo a sala de aula simula a experiência de vida, antes do que explorar uma herança da
verdade e valores”.
20
Para dizer algo mais sobre a torre de marfim, a maioria das pessoas se esquecem que o
aprendizado por experiência é uma filosofia secular promovida por John Dewey que, como
Holmes então diz, estava “em [seu] pensamento, simplesmente uma aplicação da teoria da
seleção natural”
21— isto é, uma doutrina evolucionista. Ela é baseada em suposições
filosóficas não-cristãs.
A atitude desenfreada nas igrejas de hoje de que devemos “experimentar a Deus” antes do
que falar sobre Ele, além de exibir um falso senso de piedade, é baseada num sistema
filosófico hostil à fé cristã. Nós crescemos no conhecimento de Deus lendo a Escritura,
ouvindo pregadores que respeitam a autoridade bíblica, ocupados com reflexões teológicas, e
constantemente discutindo as coisas de Deus com cuidado e reverência.
Outro escritor tem isto para dizer: “Um
sloganliberal popular tem sido ‘aprender fazendo’.
Assim, os garotos de dez anos de idade fumam maconha, provam o sexo e cravam uma faca
na costela de outro garoto. Eles aprendem fazendo. Aparentemente alguns educadores nunca
suspeitaram que algumas coisas não deveriam ser feitas e nem aprendidas. Mas o pupilo não
é competente para decidir tais questões”.
22De modo oposto, “O educador cristão...está
convencido que o popular
shibboleth, aprender fazendo, é desmascarado quando vemos que o
mal, aprendido de tal maneira, causa um dano irreparável”.
23
O estudo atual diz respeito principalmente com a pregação, e embora discutir as teorias da
educação não seja tanto um rodeio, uma filosofia completa da educação deve ser reservada
para outro cenário. Por ora, é suficiente dizer que aprender fazendo é uma teoria anti-cristã, e
até mesmo esporte e carpintaria pode se ensinado de uma forma consistente com o modelo
bíblico. Nós fornecemos primeiro a base teológica, e então, se houver tempo, a aplicação. O
desenvolvimento adicional ocorre através de reflexões teóricas adicionais. Esse modelo
invariavelmente implica que uma pessoa apropriadamente educada possuirá muito mais
conhecimento do que sua vida e vocação requerem dele.
Pela razão de que o conhecimento de alguém não deve ser limitado por preocupações
pragmáticas, eu julgo o “aprendendo fazendo”
24de Jay Adams inadequado também. Ele falha
em produzir um estudante superior porque como certo conhecimento pode ser aplicável nem
sempre é óbvio; isso é verdade até mesmo de doutrinas bíblicas. Se formos limitar nosso
20
Ibid., p. 88-89.
21
Ibid., p. 89.
22
Gordon H. Clark, A Christian Philosophy of Education; The Trinity Foundation, 2000 (original: 1946); p. 52.
23
Ibid., p. 134.
24
Jay E. Adams, Back to the Blackboard: Design for a Biblical Christian School; Woodruff, South Carolina:
Timeless Texts, 1998 (original: 1982); p. 126.
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aprendizado somente ao conhecimento que pode ser aplicado, nossas vidas limitadas
implicariam num escopo igualmente restrito para a aquisição de conhecimento e habilidade.
Adams escreve, “O aprendizado ocorre quando uma pessoa sabe que o que ela deve estudar é
essencial para realizar o que ela quer alcançar”.
25Este será o produto — uma pessoa que
conhece somente o essencial. Quantos estudantes de contabilidade estariam então
interessados em cosmologia? Sem dúvida mui poucos perceberão a necessidade de ler Homer
ou Milton. O conhecimento só é muito requerido para um determinado campo, e sob o
esquema do aprender para fazer, uma pessoa não encontrará nenhuma justificativa para
continuar seus estudos após ter alcançado o nível necessário de proficiência, e ainda menos
razão para estudar materiais não relacionados com as suas necessidades.
O modelo correto que maximiza o aprendizado e a competência é perceber o conhecimento,
especialmente o conhecimento teológico, como inerentemente valioso, quer a pessoa encontre
ou não ocasião para aplicá-lo. Os americanos pragmatistas ficam horrorizados com a sugestão
de que o conhecimento deve ser adquirido por causa dele mesmo, mas eu não tenho respeito
pelo pragmatismo americano. Ele produz pensadores superficiais e trabalhadores
incompetentes.
Contudo, certo conhecimento teológico demanda obediência e alterações drásticas no modo
como pensamos e vivemos; se é assim, devemos obedecer, e isso é aplicação. Isso permite
um busca interminável de conhecimento, especialmente com relação às coisas de Deus, assim
como prepara a aplicação onde o conhecimento e as necessidades reais coincidem. Mas isso
também significa que na aquisição de conhecimento, a aplicação nunca merece o foco
principal.
Esse modelo de educação é pesado na teoria, e leve na aplicação; ele enfatiza mais o pensar
do que o fazer — muito mais. Embora eu seja receoso de endossos empíricos, pesquisas na
psicologia dos esportes sugerem que a repetição mental, com um mínimo de prática real,
pode ser tão eficaz em aprimorar a performance como o treinamento físico regular. O ponto é
que, com ou sem o apoio de tais estudos, essa estratégia de aprendizado se aplica até mesmo
a áreas que parecem ser mais físicas do que intelectuais. Nós ensinamos para a mente, e
aprendemos pela mente.
No final, essa forma de educação produz os mais brilhantes pensadores que acham suas
tarefas diárias fáceis de manusear, visto que seu conhecimento e capacidade excedem em
muito aos reais requerimentos. Na igreja, sejamos mais parecidos com Maria do que com
Marta. A última “estava ocupada com muito serviço” (Lucas 10:40), mas Jesus disse que
“Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (v. 42), pois ela “ficou sentada aos
pés do Senhor, ouvindo a sua palavra” (v. 39). Incidentalmente, essa passagem em Lucas
mostra que é mais importante para as mulheres estudar teologia do que fazer os serviços
diários de casa.
Ainda, muito insistem que palestras e livros-textos não são substitutos para a experiência de
vida, mas isso é porque eles nunca leram um livro-texto onde o autor tenha registrado sua
experiência de vida para outros lerem. Quem nos impedirá de ler sobre as experiências de
centenas de pessoas ao invés de ter somente a nossa? Todavia, princípios derivados da
experiência de vida, seja dos outros ou da nossa, não são confiáveis e são freqüentemente
25
Ibid., p. 127.
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claramente falsos. Na teologia, nossa experiência de vida nunca produzirá conhecimento que
se aproxime do
statusda revelação divina, de forma que podemos abandonar também tal
método de aprendizagem.
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5. O USO DE ESTÓRIAS
Assumamos, após as páginas anteriores, que a legitimidade da pregação ou da palestra, como
a maneira apropriada de ensinar, tem sido aceita. Ainda resta várias teorias e ênfases falsas
entre aqueles que favorecem, ou pelo menos parecem favorecer, tal abordagem para com o
ensino. Examinaremos duas delas; elas pertencem aos papéis do humor e das estórias na
pregação.
Visto que eu pretendo gastar mais tempo discutindo os casos das estórias, descartaremos
rapidamente uma ênfase sobre humor na pregação, mesmo que ela mereça um argumento
mais extensivo em outro lugar. O humor pode ser conectado com a alegada necessidade de
fazer os sermões interessantes, e assim, não negligenciaremos muito essa questão, visto que
isso é algo que iremos contra mais tarde. Por ora, note que o humor não adiciona nenhuma
informação inatingível através do discurso regular. Ele não tem justificação escriturística, e
muitos podem considerar o seu uso, especialmente se aplicado em abundância, como sendo
irreverente.
Algumas vezes as pessoas reivindicam achar certas partes da Bíblia como sendo
humorísticas, mas isso não diz nada sobre se os autores bíblicos pretenderam entreter os seus
leitores dessa forma. Apenas porque alguém acha algo divertido não significa que esse algo
pretendia ser uma piada. Se os ouvintes encontram humor em algo que o ministro seriamente
afirma, tudo bem — pelo menos o contexto denuncia a irreverência deles. De outra forma,
que o pregador gaste tempo em seu estudo para ler um capítulo adicional de teologia
sistemática antes do que confeccionar anedotas humorísticas. O uso de humor como um
instrumento para aumentar a comunicação vem da teoria secular e da experiência humana, e
não pode ser justificado a partir da Escritura.
Verdade, o “coração alegre é bom remédio” (Provérbios 17:22), mas quão bom é uma pessoa
que pode ser alegre somente quando bombardeada com piadas? O versículo não indica como
alguém se torna alegre — eu posso ficar totalmente feliz lendo o argumento ontológico de
Anselmo ou a genealogia de Cristo. O que nós sabemos é que a Bíblia não é cheia de piadas.
Para mim, a questão não é se devemos incluir humor em nossa pregação, mas se devemos
deliberadamente nos abster dele. Sem estabelecer esse ponto final, procederemos a discutir o
uso de estórias na pregação.
O uso de estórias é frequentemente recomendado na pregação por duas razões: fazer a
mensagem mais acessível e sustentar a atenção e interesse da audiência. Visto que estaremos
em breve tratando da alegada necessidade de fazer os sermões interessantes, aqui
endereçaremos somente a primeira razão, principalmente mostrando que estórias
frequentemente impedem a comunicação.
Desde o início, devemos apontar que estórias podem ser muito difíceis de entender. Isso é
ilustrado por como os estudantes americanos lêem seus romances nas aulas de literatura.
Muitas interpretações fantasiosas podem ser dadas, enquanto os autores podem não ter
intentado nenhuma delas. Os professores dizem que isso não importa, contudo, realmente
importa se um autor pretende comunicar informação definida ao leitor. A tolice da sala de
aula americana tem sido levada para a igreja, de forma que os crentes tendem a derivar
interpretações puramente subjetivas do texto bíblico, e se importam pouco com o significado
pretendido de uma passagem.
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Alice no País das Maravilhas
é tão difícil de entender que ele requer as notas extensivas de
The Annotated Alice
[A Alice Anotada],26de Martin Gardner, para expor numerosas
referências matemáticas, filosóficas, políticas e outros tipos de referências espalhadas por
toda a estória. A sobrecapa diz que “foi Gardner quem primeiro decodificou muitos dos
enigmas matemáticos e jogo de palavras que estão com perspicácia embutidos” nas estórias
de Lewis Carroll. Mesmo então, alguém se maravilha se algumas de suas anotações não são
mais especulativas do que factuais.
O estudante moderno não tem chance de entender Carroll sem muita assistência — dada no
discurso claro ao invés da forma narrativa. E quantos podem perceber as referências
teológicas em
As Crônicas de Nárnia de C.S. Lewis e no O Senhor dos Anéis, de J. R. R.
Tolkien?
27Até adultos nem sempre captam as lições nas fábulas de Aesop e do Dr. Suess. E
precisamos mencionar Shakespeare? Estórias requerem explicações explícitas, pelos autores
ou por outros indivíduos qualificados, ou se arrisca produzir uma miríade de interpretações
falsas.
A Bíblia contém estórias que não contradizem o exposto acima, embora muito do que está na
Bíblia deve ser apropriadamente chamado de
história, e não de estória. A questão é o papel
das narrativas na
pregação. Como será demonstrado brevemente, a partir da Escritura, a
precação deveria explicar as estórias da Bíblia por meio do discurso claro e literal, ao invés
de adicionar ainda mais estórias por parte do orador. Na pregação nós expomos a revelação
verbal de Deus, ao invés de seguir sua forma de apresentação. Apenas porque a Bíblia
contém muitos poemas, provérbios e salmos, não significa que o ministro deva pregar nessas
formas literárias.
Marcos 4:33 pode parecer para alguns como inconsistente com o que tem sido dito até aqui
com respeito às estórias: “Com muitas parábolas semelhantes Jesus lhes anunciava a palavra,
tanto quanto podiam receber”. O versículo nos faz reconhecer que há um sentido no qual as
parábolas podem ser entendidas sem explicação extensiva, mas qual é esse sentido ainda deve
ser visto.
Primeiro, devemos ler tanto o versículo 33 como o 34: “Com muitas parábolas semelhantes
Jesus lhes anunciava a palavra, tanto quanto podiam receber. Não lhes dizia nada sem usar
alguma parábola. Quando, porém, estava a sós com os seus discípulos, explicava-lhes tudo”.
Imediatamente podemos concluir que as multidões não entendiam tudo o que podia ser
inferido das suas parábolas, de outra forma ele não precisaria explicá-las aos seus discípulos.
Jesus fala às multidões em parábolas, e eles podiam entendê-las num certo sentido, e então
ele se voltava aos seus discípulos e explicava-as em particular, de forma que o último grupo
podia entendê-las num sentido ou numa extensão não aplicável às multidões.
Muitos comentaristas são tão ávidos em afirmar que Jesus desejava que as multidões
entendessem o que ele dizia, que a exegese deles de Marcos 4:33 falha em levar em conta o
versículo 34 e outras passagens que negam que as parábolas fossem fáceis de entender. Larry
Hurtado relega Marcos 4:12 e 33 a algum tipo de “ironia profética”.
28Matthew Henry é
26
The Annotated Alice: The Definitive Edition; W. W. Norton & Company, 1999.
27
Kurt D. Bruner and JimWare, Finding God in the Lord of the Rings; Tyndale House Publishers, 2001;
Mark Eddy Smith,
Tolkien's Ordinary Virtues: Exploring the Spiritual Themes of the Lord of the Rings;
InterVarsity Press, 2002.
28
LarryW. Hurtado, New International Biblical Commentary: Mark; Peabody, Massachusetts:
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melhor: “…ele buscou suas comparações daquelas coisas que eram familiares a eles...em
condescendência à capacidade deles; embora ele não lhes levou ao
mistériodas
parábolas...”.
29
John Gill observa que Jesus “condescendeu à fraqueza deles, se acomodou às capacidades
deles... fez uso das similitudes mais claras; e tomou suas comparações das coisas na natureza,
as mais conhecidas e óbvias”. Contudo, “ele falou a palavra a eles em parábolas, como se eles
fossem capazes de ouvir, sem entendê-las; e de tal maneira, com o propósito de que eles não
pudessem entender”.
30As parábolas ou estórias em si são simples o suficiente, mas as
verdades teológicas representadas podem não ser claras aos ouvintes.
Mateus 13:1-23 segue o mesmo padrão — Jesus conta a parábola do semeador nos versículos
3-9, e explica seu significado aos seus discípulos nos versículos 18-23. No versículo 10, os
discípulos perguntam a Jesus: “Por que falas ao povo por parábolas?”. Ao invés de dizer que
as parábolas contribuem para o entendimento, Jesus responde: “A vocês foi dado o
conhecimento dos mistérios do Reino dos céus,
mas a eles não... Por essa razão eu lhes falo
por parábolas: ‘Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem’. Neles
se cumpre a profecia de Isaías: ‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca
entenderão;ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão’” (v, 11,13-14).
Não importa o entendimento que as multidões podiam receber, as parábolas tinham a
intenção de ocultar deles “o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus”. Tal
entendimento é dado somente àqueles a quem Cristo escolhe concedê-lo. À luz disso, Marcos
4:33 somente significa que as multidões eram capazes de entender o superficial das
parábolas, e no máximo alguns princípios elementares.
Eles são capazes de entender as próprias estórias literais, mas perdem todas ou a maioria das
verdades teológicas que elas pretendem comunicar. Um entendimento mais completo é dado
aos discípulos em privado através de explicações claras. Por exemplo, a audiência geral pode
entender que o semeador semeou as sementes no solo, mas somente umas poucas pessoas
receberam a interpretação de que isso significa o ministro pregar a palavra de Deus. Todavia,
alguns são capazes de entender as parábolas a um grau maior quando as insinuações são
muito óbvias: “Quando os chefes dos sacerdotes e os fariseus ouviram as parábolas de Jesus,
compreenderam que ele falava a respeito deles” (Mateus 21:45).
Entre as obras contemporâneas, uma declaração superior sobre Marcos 4:33 é a seguinte:
“Havia um
velar (ou revelação muito parcial) diante das multidões e uma revelação(mas
somente entendimento parcial) aos discípulos. Esse é o padrão ilustrado no capítulo 4 e
assumido por todo o evangelho de Marcos”.
31Outros estudiosos observam, “...a parábola é
um enigma...velando o entendimento deles como a Escritura tinha profetizado... A eles Jesus
permaneceu um enigma provocativo...”.
32
Hendrickson Publishers, Inc., 1983, 1989; p. 73-74.
29
Matthew Henry's Commentary, Vol. 5; Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, Inc., 2000; p.
384.
30
John Gill, Exposition of the Old and New Testaments, Vol. 7; Paris, Arkansas: The Baptist Standard
Bearer, Inc., 1989 (original: 1809); p. 404.
31
William L. Lane, New International Commentary on the New Testament: The Gospel According to Mark;
Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans Publishing Company, 1974; p. 173.
32
The Reformation Study Bible; Nashville, Tennessee: Thomas Nelson Publishers, Inc., 1995; p. 1567.
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As parábolas são em geral difíceis de entender, mas as multidões foram capazes de derivar
algumas idéias básicas delas. Por outro lado, os discípulos receberam instruções diretas, mas
a inaptidão espiritual deles os impediu do entendimento pleno do que Jesus disse. Somente
essa interpretação explica todo o registro bíblico sobre o assunto, enquanto as outras falham
em levar em conta a afirmação de Jesus de que as parábolas tinham o propósito explícito de
impedir a iluminação espiritual.
Todavia, Jesus também usou discurso claro ao falar às multidões quando ele achou
apropriado. Sem citar os versículos, em Lucas 4:18-21, Jesus lê o profeta Isaías, e então
declara claramente que a profecia tinha sido cumprida. Nos versículos 24-27, ele cita o
registro histórico com respeito a Elias e Eliseu, faz uma observação relevante com respeito ao
ministério deles, e diz: “Nenhum profeta é aceito em sua terra” (v. 24). O discurso foi claro, e
assim, as pessoas entenderam; como resultado, eles tentaram matá-lo (v. 28-29).
Para citar um exemplo do Antigo Testamento, Davi falhou em ver a si mesmo na estória de
Nata, até que o profeta disse: “Você é esse homem!” (2 Samuel 12:7). Então Natã fornece a
explicação em linguagem clara: “Assim diz o SENHOR, o Deus de Israel: ‘Eu o ungi rei de
Israel e o livrei das mãos de Saul. Dei-lhe a casa e as mulheres do seu senhor. Dei-lhe a nação
de Israel e Judá. E, se tudo isso não fosse suficiente, eu lhe teria dado mais ainda. Por que
você desprezou a palavra do SENHOR, fazendo o que ele reprova? Você matou Urias, o
hitita, com a espada dos amonitas e ficou com a mulher dele” (v. 7-9).
Sem já conhecer o pleno contexto do incidente, seria impossível derivar tal interpretação
somente a partir da estória nos versículos 1-4. Para testar isso, leia os versículos 1-4 a alguém
que seja totalmente ignorante dessa parte da Bíblia, e veja se ele chegará ao entendimento dos
versículos 7-9 por si próprio. Novamente, isso mostra que as estórias são difíceis de entender
sem explicações explícitas.
João 10:6 diz: “Jesus usou essa comparação, mas eles não compreenderam o que lhes estava
falando”. E em João 16:29-30, seus discípulos lhe disseram: “Agora estás falando claramente,
e não por figuras. Agora podemos perceber que sabes todas as coisas e nem precisas que te
façam perguntas. Por isso cremos que vieste de Deus”. Jesus respondeu: “Agora vocês
crêem?” (v. 31). Para facilitar o entendimento e a fé, alguém deve minimizar o uso de
estórias, e explicar em linguagem clara qualquer narrativa sobre a qual ele escolhe pregar.
Explicando a morte sacrificial do Messias aos seus discípulos abatidos, em seu estado pósressurreição
(Lucas 24:17), Jesus prova a proposição “o Cristo [tinha que] sofrer estas coisas,
para entrar na sua glória” (v. 26), não pelo uso de estórias e ilustrações, mas pelo processo de
exegese bíblica, considerada tediosa por muitos: “...começando por Moisés e todos os
profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (v. 27).
O versículo 45 diz: “Então ele lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as
Escrituras”. Pode algo ser mais claro do que isso? As estórias e outros artifícios retóricos não
ajudem no entendimento, mas o falar claro capacita alguém a declarar seu significado com
clareza e precisão. Então somente pela graça de Deus a mente de uma pessoa será aberta para
entender teologia.
Portanto, o fato de que a Bíblia contêm muitas narrativas não significa que devemos adotar
tal procedimento em nossa pregação; apenas significa que devemos palestrar sobre o
significado dessas estórias. Os apóstolos palestraram e escreveram claramente sobre o
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21
significado e implicações das narrativas bíblicas, bem como exposições sobre novas
revelações dadas a eles através de inspiração especial; eles não usaram estórias com um meio
para ensinar as verdades bíblicas.
Admitidamente, o Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, e está cheio de elementos
figurados. Quantas pessoas o entendem? Se um ministro prega sobre o Apocalipse, ele deve
dar explicações claras e literais de suas passagens, antes do que usar um apocalipse para
explicar outro.
Novamente, os apóstolos disseram a Jesus que a linguagem clara é mais fácil de entender do
que as estórias, parábolas e figuras de linguagem (João 16:29-30). Portanto, embora Jesus
tivesse suas próprias razões para usar parábolas, se um orador quer realmente ser entendido,
ele deve limitar seu uso de estórias. Certamente ele deve expor sobre as narrativas e parábolas
bíblicas, e até mesmo sobre os apocalipses de Daniel e João, mas isso usando a linguagem
clara para explicar as estórias e figuras de linguagem, e não usando estórias para explicar
verdades divinas.
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22
6. UM MINISTÉRIO ABRANGENTE
Todas essas páginas são apenas para desvelar os significados e implicações da primeira
palavra em 2 Timóteo 4:2. O restante do versículo, entre outras coisas, nos diz algo sobre o
conteúdo de nossa pregação: “Pregue a Palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo,
repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina”. Nós temos descoberto o que
significa pregar; agora consideraremos o que devemos pregar.
“Pregue a Palavra”, Paulo ordena. A
Palavra, ou logos, tem uma tamanha significância
teológica e filosófica que alguém pode escrever um livro inteiro sobre ela. Aqui estamos
interessados somente no que ela pode nos dizer sobre o conteúdo das mensagens que
devemos pregar. Seria mais fácil se chegássemos a esse ponto em nosso estudo como um
resultado de já ter exposto tudo de 1 Timóteo, e todas as porções anteriores de 2 Timóteo.
Mas visto que não temos feito, eu apontarei diversas passagens que parecem ser diretamente
relevantes.
Paulo escreve no início de 2 Timóteo: “Portanto, não se envergonhe de testemunhar do
Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo
evangelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação,
não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta
graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos, sendo agora revelada pela
manifestação de nosso Salvador, Cristo Jesus. Ele tornou inoperante a morte e trouxe à luz a
vida e a imortalidade por meio do evangelho. Deste evangelho fui constituído pregador,
apóstolo e mestre” (1:8-11).
Esses versículos contêm referências à eleição divina, à encarnação, à expiação e à vida eterna
(v. 9-10). A ressurreição é também implicada no fato de ser dito que Cristo “tornou
inoperante a morte” (v. 10). É essa mensagem que Paulo proclama como um “pregador,
apóstolo e mestre” (v. 11). Obviamente, diversos versículos não podem sumarizar tudo o que
Paulo pregava, mas em outro lugar descobrimos que ele proclamava aos seus ouvintes “toda a
vontade de Deus” (Atos 20:27).
Então, nos versículos 13-14, o apóstolo instrui Timóteo a guardar a mensagem que ele tinha
ouvido: “Retenha, com fé e amor em Cristo Jesus, o modelo da sã doutrina que você ouviu de
mim. Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em
nós”. Por “guarda o bom depósito”
33, Timóteo não deve apenas reter e viver o ensino de
Paulo, mas deve também espalhá-lo, visto que ele lhe diz: “E as palavras que me ouviu dizer
na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de
ensinar outros” (2 Timóteo 2:2).
Se Paulo proclama “toda a vontade de Deus”, e Timóteo deve continuar a pregar tudo o que
ele ouviu do apóstolo, isso significa que Timóteo deve pregar “todo o corpo de verdade
revelada”
34também. Além do mais, Jesus ordena seus discípulos a ensinarem seus ouvintes
“a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mateus 28:20). O conteúdo da pregação é,
portanto, tudo o que a Bíblia diz e implica.
33
Nota do tradutor: Na NIV, versão do autor: “Guarda o bom depósito que lhe foi confiado, guarde-o com a
ajuda do Espírito Santo que habita em nós”.
34
Wuest, p. 154.
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23
Não subestime a importância de estabelecer o escopo de nossa pregação. Há aqueles que,
usando 2 Timóteo 4:2 ou outras passagens,
35tentam limitar o conteúdo da pregação, pelo
menos ao incrédulos, ao que eles chamam materiais “evangelísticos”. Eles podem apontar
que 2 Timóteo 4:5 diz para “fazer a obra de um evangelista”. Contudo, como temos visto
anteriormente, baseado no contexto de 4:2 nessa carta, a audiência consiste principalmente de
crentes e de falsos mestres. Timóteo tinha sido instruído para instruir e advertir os primeiros,
e refutar os últimos. Mesmo que o versículo 5 pretendesse ser um mandamento para
evangelizar incrédulos, isso não controla o conteúdo de pregação que o versículo 2 pretende
expressar.
Também, os anti-intelectuais que desejam limitar o escopo da pregação não podem definir o
número mínimo de verdades doutrinárias requeridas que devemos pregar para realizar o que
eles consideram ser evangelismo. Talvez eles concordariam que é necessário pregar sobre a
expiação. Mas a expiação pressupõe a encarnação; a encarnação pressupõe a deidade de
Cristo; a deidade de Cristo pressupõe a Trindade. A necessidade de uma expiação pressupõe
a queda do homem; a queda do homem pressupõe a doutrina do homem como a imagem de
Deus; que o homem é a imagem de Deus pressupõe a criação; criação pressupõe Deus e suas
criaturas; e também o supralapsarianismo.
Estudar a Trindade resulta nas formulações doutrinárias com respeito à geração eterna do
Filho, a definição de personalidade (que então carrega a doutrina do homem), e um exército
de outros assuntos. A encarnação de Cristo deve ser harmonizada com a imutabilidade de
Deus, e seu nascimento sem pecado com a representatividade federal de Adão, e esse último
com a justiça e soberania de Deus. Afirmar todas essas doutrinas pressupõe a inspiração e
infalibilidade da Escritura. Isso é apenas uma pequena demonstração de como todas as
doutrinas bíblicas estão inter-relacionadas, mostrando que não é possível para alguém que
restringe o escopo bíblico de sua pregação ter um ministério adequado.
“Toda a Escritura”, Paulo diz, “é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e
plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16-17). O ministério doutrinário não
deve ser somente acurado, mas também abrangente. Paulo foi capaz de dizer: “Portanto, eu
lhes declaro hoje que estou inocente do sangue de todos. Pois não deixei de proclamar-lhes
toda a vontade de Deus” (Atos 20:26-27). Alguém que prega somente materiais
“evangelísticos” aos incrédulos e somente verdades “práticas” aos crentes não tem cumprido
seu ministério, e é culpado aos olhos de Deus.
Nossa incapacidade de mortalidade pode nos impedir de ensinar às pessoas absolutamente
tudo o que há para se saber, mas devemos nos esforçar para sermos abrangentes. A Escritura
também prescreve a profundidade do ministério doutrinário: “Entretanto, falamos de
sabedoria entre os que já têm maduridade...falamos da sabedoria de Deus, do mistério que
estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das eras, para a nossa glória...O
Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus....Nós,não
recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos...”
(1 Coríntios 2:6-7,10,12). Devemos tomar o apóstolo Tiago seriamente quando ele diz:
“Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que
ensinamos, seremos julgados com maior rigor”. Assumir a função, e sua honra, traz também
com ela todas as responsabilidades implicadas pela posição.
35
Uma passagem dessas pode ser 1 Coríntios 2:2, mas isso é uma interpretação errônea, como pode ser visto a
partir do versículo 6, na pregação de Paulo em Atenas, e em suas cartas.
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24
7. NOTAS E ENTREGA
Uma pergunta comum feita pelos pregadores é se alguém deve escrever a mensagem que ele
irá pregar, ou se um esboço pode ser suficiente. Dado a abrangência e profundidade requerida
na pregação mencionada anteriormente, escrever o sermão inteiro parece ser preferível. Mas
alguns argumentam que a pregação deveria ser feita sem quaisquer notas — não que
possamos fazer sem preparação, mas somente que os materiais devem ser absorvidos o
suficiente de forma que a pessoa não precise de nenhuma nota para a apresentação real.
36
A preocupação dessa última visão é que usar nota impede que a entrega do sermão seja
eficaz, visto que o orador pode se tornar monótono e rígido, e falhar em engajar
apropriadamente sua audiência. É desnecessário dizer que esse ponto de vista é especialmente
oposto a se escrever o sermão palavra por palavra. Endereçaremos uma questão relacionada
mais abaixo, que torna essa e outras preocupações semelhantes sem importância, e assim,
nega os argumentos que favorecem a pregação sem notas. Minha posição é que as notas não
são requeridas se alguém conhece seus materiais muito bem, mas é preferível usá-las.
De qualquer modo, poucos objetariam a se seguir um esboço quando pregando uma
mensagem. Um esboço preparado capacita o orador a estruturar os seus pensamentos,
assegurando assim uma apresentação coerente dos materiais, e ajuda a evitar o tipo de livre
associação ou fluxo de consciência no estilo da pregação, que se passa por inspiração tão
comumente nos sermões contemporâneos.
O debate real é se um sermão inteiro deve ser escrito e lido para a audiência durante a
entrega. Karl Barth insiste que isso deve ser feito; ele dá suas razões:
O pré-requisito básico na execução é escrever o sermão... um sermão é um discurso
que preparamos palavra por palavra e escrevemos. Somente isso está de acordo com
sua dignidade. Se é verdade em geral que devemos dar conta de cada palavra ociosa,
devemos agir assim especialmente em nossa pregação. Porque a pregação não é uma
arte que alguns podem ser mestres porque são bons oradores e outros somente
trabalhando com o sermão escrito. O sermão é um evento litúrgico... eles podem
entrar nesse ministério somente após completa reflexão, para o melhor do seu
conhecimento, e com uma clara consciência. Cada sermão deveria estar pronto para
impressão, assim como deveria estar antes da entrega...
Essa demanda é uma regra absoluta para todos. Podemos roubá-la de sua validade
universal, aplicando-a somente a pregadores jovens até que eles tenham a prática
necessária. Há grande perigo nesse tipo de pensamento...
37
Advogados da pregação sem notas geralmente dão somente razões pragmáticas, tais como
que elas impedem a entrega, e quando falando contra escrever cada palavra, apresentam o
esforço extra demandado do pregador. Contudo, alguém pode sempre encontrar um contraexemplo
pra cada objeção pragmática. Jonathan Edwards escrevia seus sermões e leia seus
manuscritos durante a entrega. Relatos de testemunhas oculares indicam que ele dificilmente
tirava os olhos de suas notas, e, todavia, ele foi um dos maiores reavivalistas que já existiram.
36
Charles W. Koller, How to Preach Without Notes; Baker Book House, 1997.
37
Karl Barth, Homiletics; Louisville, Kentucky: Westminster John Knox Press, 1991; p. 119-120.
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Essa foi a forma na qual ele entregou seu famoso
Pecadores nas Mãos de um Deus Irado, e
seus ouvintes foram mais do que um pouco afetados, alguns gritavam tão alto que num certo
ponto ele teve que parar e pedir-lhes que ficassem quietos, para que ele pudesse terminar de
ler o seu manuscrito.
Outro exemplo podem ser os discursos via rádio de Winston Churchill. Para citar Mortimer
Adler:
Ouvi-o no rádio durante os primeiros dias da Segunda Guerra Mundial; eu escutei
com admiração o que parecia ser um discurso belamente organizado, eloquentemente
entregue com todas as hesitações e pausas que indicam improvisação da sua parte.
Houve muitos momentos quando ele parecia estar buscando a palavra certa chegar.
Mas a verdade da questão era, como descobri mais tarde, que o discurso foi
completamente escrito e entregue com tanta perspicácia que ele tinha todas as
qualidades de um discurso improvisado.
38
Certamente, isso tem a ver com transmissões via rádio, e não com um discurso apresentado
em pessoa. Mas ela ainda mostra que as objeções baseadas na entrega, embora eu
argumentarei que elas não são importantes, podem ser sobrepujadas.
Argumentos pragmáticos são quase sem valor. Alguém deve dar o tipo de razões teológicas
que Barth oferece acima. Enfatizar a entrega é pragmático, e assim, falha em convencer, mas
as preocupações teológicas nos compelem a preferir a profundidade e a precisão em nossos
sermões. Escrever os sermões em sua inteireza ajuda a alcançar essas qualidades.
Tendo feito desta uma questão teológica ao invés de pragmática, alguns podem argumentar
que os apóstolos nunca escreveram os seus sermões; antes, eles foram inspirados pelo
Espírito Santo. Esse argumento é irrelevante visto que ninguém possui inspiração do mesmo
tipo hoje. O Espírito Santo pode nos “inspirar” no sentido de fazer nossas mentes eficazes e
capazes, mas o tipo de inspiração que os apóstolos e profetas tinham era única a eles.
Certamente ninguém pode adicionar nada à Escritura, pois o cânon do Novo Testamento já
foi completado.
Muitas pessoas não entendem 1 Coríntios 2:13, e tentam em vão aplicá-lo diretamente a si
mesmos: “Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas
com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são
espirituais”.
39Isso se refere à inspiração dada à companhia apostólica de forma que, quando
um apóstolo fala como um apóstolo, ele fala as próprias palavras de Deus. Ele não usa as
palavras que ele formou para descrever um pensamento que Deus colocou em sua mente, mas
as próprias palavras são lhes dada pelo Espírito Santo. Alguém que reivindica inspiração
desse tipo hoje é um herege, em cujo caso o problema se torna diferente daquele que estamos
discutindo aqui; de qualquer forma, “devemos preparar sermões com oração e trabalho”.
40
Contudo, é enganoso dizer que os apóstolos e os cristãos primitivos nunca escreveram os
sermões dele. Alguns crêem que 1 Pedro pode ter sido um sermão batismal escrito pelo
38
Adler, p. 69.
39
Sem colocar a disputa ao redor desse versículo, permanece a questão de que os apóstolos foram inspirados de
uma maneira única. Veja João 14:26, 16:13; 1 Coríntios 14:37; 1 Tessalonicenses 4:2, 8; 2 Pedro 3:2; 1 João
4:6.
40
Barth, p. 120.
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apóstolo cujo nome ele carrega,
41e Ronald Nash argumenta que “a Epístola aos Hebreus é
realmente um tipo de sermão escrito”,
42de autoria de Apolo. Mesmo que nada disso seja
verdade, Paulo diz que suas cartas devem ser lidas às igrejas: “Depois que esta carta for lida
entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses, e que vocês igualmente
leiam a carta de Laodicéia” (Colossenses 4:16); “Diante do Senhor, encarrego vocês de lerem
esta carta a todos os irmãos.” (1 Tessalonicenses 5:27). E se os apóstolos nunca escreveram
seus sermões, os pais da igreja primitiva escreveram o suficiente para encher volumes.
Há boas razões, portanto, para escrever nossos sermões em sua inteireza, e ler a partir dos
manuscritos durante a entrega. Mas se essa prática se torna um dever moral para o pregador,
como Barth mantém, não investigaremos.
41
Mas veja Wayne Grudem, Tyndale New Testament Commentaries: 1 Peter; Grand Rapids, Michigan;
William B. Eerdmans Publishing Company, 2000 (original: 1988); p. 40-41.
42
Ronald H. Nash, The Meaning of History; Nashville, Tennessee: Broadman and Holman Publishers,
1998; p. 47.
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8. LITERATURA CRISTÃ
Isso me permite uma transição natural para discutir o lugar das publicações escritas no
ministério doutrinário. Lembre-se do que Barth afirma: “Cada sermão deveria estar pronto
para impressão, assim como deveria estar antes da entrega”.
43Note também que: “Nos
encontros de sociedades cultas ou de associações acadêmicas... O orador sabe de antemão que
é esperado submeter seu discurso, como entregue, para subseqüente publicação nos
procedimentos da conferência”.
44
Visto que sermões e palestras que são plenamente escritos já estão preparados para
publicação, devemos considerar o lugar da leitura no ministério doutrinário e no
desenvolvimento espiritual do crente. É verdade que um sermão escrito pode ser diferente em
diversos aspectos daquele que é pretendido ser um artigo sem a intenção para entrega orar,
mas para os nossos propósitos as diferenças são insignificantes.
Os dois não devem ser totalmente diferentes em primeiro lugar — eu não encontro nenhum
problema em entregar o presente artigo como um sermão (ou dividi-lo numa série de
sermões), ou pregar lendo um capítulo de um dos meus livros. Lembre-se, eu tenho
estabelecido que um sermão é uma palestra; o que eu escrevi como um sermão não tem que
ser totalmente diferente de um artigo ou parte de um livro. Portanto, nessa seção não iremos
nos referir somente aos sermões escritos, mas a toda literatura cristã em geral.
Pode ser uma coisa perigosa ser de alguma forma proficiente em estudos da palavra sem
conhecer o suficiente sobre a revelação bíblica como um sistema. O significado da palavra é
finalmente determinado pelo seu uso e fundo teológico, não meramente por sua definição no
dicionário. Falhando em observar esse princípio, William Barclay escreve: “O próprio fato de
que a palavra
logosé usada para a mensagem cristã é muito significante. Ela significa uma
mensagem falada
, e, portanto, significa que a mensagem cristã não é algo que é aprendida de
livros, mas algo que é transmitido de pessoa para pessoa”.
45
Se isso é verdade, seu comentário inteiro de 17 volumes sobre o Novo Testamento não
contém a mensagem cristã, nem podem os seus diversos outros livros nos iluminar sobre a
natureza do Cristianismo. Muito mais perplexo é o fato de que temos lido a Bíblia durante
todo esse tempo. A partir do que ele diz, ela certamente não pode ser a mensagem cristã.
Contudo, no mesmo parágrafo ele diz: “A mensagem cristã vem muito mais frequentemente
através do viver a personalidade do que através de uma página impressa ou escrita”.
46
Contudo, se “a mensagem cristão
não éalgo que é aprendido de livros”, então isso deve
significar que ela
semprevem a partir da palavra falada. Para ele então dizer que ela somente
“muito mais frequentemente” vem dessa forma significa que ela
algumas vezesvem a partir
da página escrita, e assim, contradiz sua declaração anterior. Mas “algumas vezes” ainda não
é bom o suficiente — tudo o que sabemos sobre a mensagem cristã vem a partir dos escritos
dos apóstolos e profetas.
Sinclair Ferguson traz nossa atenção para o exemplo de Lutero:
43
Barth, p. 119.
44
Adler, p. 73.
45
William Barclay, New Testament Words; Louisville, Kentucky: Westminster John Knox Press, 1964,
1974; p. 179.
46
Ibid., p. 179.
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28
No começo do seu ministério, Martinho Lutero, o reformador, tinha pouco tempo para
a literatura cristã. Como outros desde então, ele tendia a considerar a literatura cristã
como antagonista ao espírito do evangelho. O evangelho, ele dizia, é sobre a palavra
pregada e a que devemos pregar. Todavia, o mesmo Martinho Lutero (incrível como
possa parecer) foi responsável por um terço de todos os livros publicados no idioma
alemão na primeira metade do século 16! Em toda estante de livros na Alemanha, um
a cada três livros tinha provavelmente Lutero como autor!
Por que isso? Lutero viu que escrevendo ele poderia espalhar a mensagem do
evangelho e a alegria da Reforma; lendo, o povo cristão poderia crescer em graça e a
igreja de Jesus Cristo seria edificada e fortalecida.
Pense sobre as biografias que você já leu. Não é verdade que a maioria dos cristãos
grandemente usados foram homens e mulheres que estavam sempre usando, num
sentido ou noutro, material impresso? Assim, no propósito de Deus, usar literatura
cristã tem sido um sinal de vitalidade no povo de Deus...Há muitas razões para isso.
Uma é que a fé cristã é uma fé da mente...
47
Eu fico feliz por Ferguson mencionar a natureza da fé. Romanos 10:17 diz:
“Conseqüentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a
palavra de Cristo”. A partir desse versículo, eu tenho ouvido o argumento feito de que a fé
vem por se ouvir, não por se ler, e, portanto, somente a pregação estimula a fé. Os menos
extremos pensam que ouvir é pelo menos melhor para produzir fé do que ler. Mas o versículo
não nega que a fé possa vir da leitura, nem diz que ouvir é melhor.
Lançar dúvida sobre a eficácia de se ler baseando-se nesse versículo é contradizer o ensino
bíblico. O apóstolo João diz: “Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros
sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que
vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome”
(João 20:30-31).
Observe: “...estes foram
escritos para que vocês creiam...”. A fé vem do ler assim como do
ouvir. Essa passagem por si só é conclusiva contra a idéia de que “a mensagem cristã não é
algo que é aprendida de livros”. Além da Bíblia, nenhuma literatura escrita carrega a
autoridade divina, mas isso é também verdadeiro com respeito à pregação. À extensão em
que nossa mensagem escrita é fiel à Escritura, ela é um meio eficaz através do qual Deus
pode gerar fé nas mentes dos leitores. A regeneração vem somente da ação direta de Deus
dentro da pessoa, mas a mensagem cristã em si
podeser aprendida de livros.
Ferguson percebe que “a fé cristã é uma fé da mente”. A questão crucial, portanto, não é se a
mensagem é falada ou escrita, embora as palavras escritas sejam superiores quando elas vêem
com precisão e permanência. O que importa é se a informação intelectual adequada tem sido
transmitida com sucesso. Isso sendo assim, a mensagem cristã produz fé mesmo quando
comunicada através de linguagem de sinais, como pode ser feito quando ministrando aos
surdos.
47
Sinclair B. Ferguson, Read Any Good Books?; Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1992; p. 2-
3.
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29
Se fosse apontar que a longevidade das idéias escritas tende a ser maior do que aquelas
meramente falas, alguns iriam invariavelmente objetar que Jesus nunca escreveu um livro.
Esse ponto tem sido repetido continuamente, usualmente no contexto de tentar mostrar quão
influente Jesus tem sido a despeito dele não ter escrito nada. Mas é embaraçoso como tal
argumento pode ser feito por pessoas que têm lido os quatro evangelhos e as cartas de Paulo,
onde a vida, as palavras e as idéias de Cristo foram registradas na forma escrita. É
insignificante se o próprio Cristo escreveu algo — a questão é: qual seria o
statusdo
Cristianismo hoje, se o Novo Testamento nunca tivesse sido escrito?
Objeções contra escrever e ler literatura cristã pode parecer ser o resultado de um preconceito
contra itens e atividades que carregam conotações acadêmicas. O Cristianismo, de acordo
com eles, é supostamente para ser cheio de vida, dinâmico, criativo e pessoal. E para eles,
livros não são nenhuma dessas coisas. Que devemos então enfatizar a pregação, uma forma
de comunicação verbal e, assim, uma atividade intelectual, já lhes causa dor suficiente. Uma
vez que rejeitamos tal absurdo anti-intelectual, a oposição contra os materiais escritos será
deixada de lado sem justificação.
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30
9. REFUTE! REPREENDA! RELEMBRE!
Consideraremos o restante de 2 Timóteo 4:2: “Pregue a palavra, esteja preparado a
tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina”.
Além de ordenar Timóteo a pregar a palavra de Deus, Paulo também o dirige sobre
quando ele deve pregar, e que formas sua pregação tomará. O apóstolo lança o princípio
de que a pregação é universal em diversas formas: ela deve propagar o escopo todo da
revelação bíblica, ela é sempre apropriada como uma forma de expressão ministerial, e
ela funciona para endereçar todos os tipos de necessidade—para “corrigir, repreender e
encorajar” (NIV).
Que toda a Escritura deve ser proclamada através da pregação já tem sido estabelecido,
mas Paulo continua e diz que esse ministério deve ser realizado em todo o tempo:
“esteja preparado a tempo e fora de tempo”. As palavras “esteja preparado” significa
“estar pronto”, “ser persistente”, ou “esteja a postos”. Lenski prefere “esteja à mão”,
pelo qual ele pretende dizer “esteja pronto imediatamente!”.
48Timóteo deveria estar ali
pregando, não importa qual condição houvesse.
Quanto ao significado de “a tempo e fora de tempo”, uma tradução melhor é a da
NRSV, que traz “quer o tempo seja favorável ou desfavorável”. Pode parecer razoável
assumir que tipos diferentes de ministério são próprios para ocasiões diferentes. Há um
tempo para oração, um tempo para música, um tempo para comunhão, um tempo para
aconselhamento e um tempo para pregação. Contudo, Paulo diz que a pregação é
apropriada para todos os tempos. Não faz diferença se a ocasião é um funeral ou um
casamento, se estamos na igreja ou na mesa de jantar, se a audiência é amigável ou
hostil, se ela consiste de adultos ou de crianças — a pregação deve ser feita em todas as
ocasiões, ela tem prioridade sobre todos os outros ministérios. Até quando alguém
pensar que certa situação é “desfavorável” para com a pregação, esse é o tempo para
pregar. E quando o tempo de tornar “favorável”, Paulo diz, pregue novamente.
A pregação pode tomar diversas formas. Como mencionado anteriormente, embora uma
palestra possa informar, ela também “corrige, repreende e encoraja”. Por “corrige”, o
“desaprove”
49de Lattimore é aceitável, dado o “demandar explicação, mostrar a alguém
a sua falta...”
50de Thayer. Deveríamos “sobrepujar em argumento” e “refutar
conclusivamente”
51os falsos mestres. A palavra é usada para “a exposição e reprimenda
dos falsos mestres do Cristianismo”
52em Tito 1:9: “E apegue-se firmemente à
mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros
pela sã doutrina e de
refutar os que se opõem a ela”. Mounce tem “confrontar".53Se
como Wuest diz, a palavra “fala de um repreensão que resulta na confissão da pessoa de
sua culpa, ou se não sua confissão, sua convicção de pecado”,
54 então “convencer”55de
48
R. C. H. Lenski,Commentary on the New Testament: The Interpretation of St. Paul's Epistles to the
Colossians, to the Thessalonians, to Timothy, to Titus, and to Philemon
; Peabody, Massachusetts:
Hendrickson Publishers, Inc., 2001 (original: 1937); p. 852.
49
Richmond Lattimore, The New Testament; New York: North Point Press, 1996; p. 462.
50
Thayer, p. 203.
51
Merriam-Webster's Collegiate Dictionary, Tenth Edition; “confute”.
52
Thayer, p. 203.
53
William D. Mounce, Word Biblical Commentary, Vol. 46: Pastoral Epistles; Nashville, Tennessee:
Thomas Nelson Publishers, Inc., 2000; p. 574.
54
Wuest, p. 155.
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31
Lenski transmite o significado com sucesso. O ministro deve
desaprovar(ou refutar por
argumento) o herege, e possivelmente trazê-lo a uma
convicçãosobre os seus erros.
”Repreenda” na NIV é acurado, mas alguém precisa perceber que a palavra refere-se a
uma reprimenda dura, não uma advertência gentil. Ela é usada em conexão com
exorcismo no ministério de Jesus: “Quando Jesus viu que uma multidão estava se
ajuntando,
repreendeuo espírito imundo, dizendo: “Espírito mudo e surdo, eu ordeno
que o deixe e nunca mais entre nele” (Marcos 9:25).
Um falso conceito de amor bíblico tem feito muitos considerar diversas reprimendas
como comportamento anti-cristão, mas a Escritura indica outra coisa: “Melhor é a
repreensão feita abertamente do que o amor oculto” (Provérbios 27:5); “Os que pecarem
deverão ser repreendidos em público, para que os demais também temam” (1 Timóteo
5:20); “Tal testemunho é verdadeiro. Portanto, repreenda-os severamente, para que
sejam sadios na fé” (Tito 1:13); “É isso que você deve ensinar, exortando-os e
repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze” (Tito 2:15).
O amor bíblico requer que uma pessoa repreenda a outra duramente sob certas
circunstâncias. Aqui em particular, Paulo diz para Timóteo repreender outros por
sustentarem falsas doutrinas. Isto é, para reprová-los duramente, com uma ameaça de
“penalidade iminente”.
56Thayer define a palavra como “taxar com falta…desaprovar,
repreender, reprovar, censurar severamente”.
57Tanto “repreender” como “reprovar” são
boas traduções, enquanto os leitores ingleses entenderem a força da palavra, e a
severidade da reprimenda intencionada.
Gordon Fee prefere “urgir”
58antes do que “encorajar”. A palavra pode ser mais gentil
do que as duas primeiras, mas Lenski pensa que, talvez dado o contexto, “o significado
dificilmente pode ser... confortar”, e, ao invés disso, prefere “admoestar”.
59“Exortar”
recebe múltiplos endossos. Uma ternura para a aliteração pode justificar a tradução:
“Refute! Repreenda! Relembre!”—embora
relembrepossa não ser preciso o suficiente,
a menos que entendido como “admoestar”; de qualquer forma, “refute, reprove,
exorte”
60é mais do que aceitável.
Há cinco imperativos aoristos no versículo, e assim, Mounce os traduz da seguinte
forma: “Pregue a palavra! Esteja preparado quando for oportuno ou importuno!
Confronte! Repreenda! Exorte! — com toda paciência e ensino”.
61O segundo parece
qualificar o primeiro, como assumido quando as palavras foram discutidas acima. O
ministro deve pregar; o conteúdo de sua pregação é toda a palavra de Deus. Em sua
pregação, ele deve refutar aqueles que crêem em falsas doutrinas, refutá-los de forma
que eles possam ser sãos na fé, e exortá-los ou urgi-los a crer e obedecer a verdadeira fé.
Isso pode ser uma tarefa muito cansativa, e, portanto, requer “grande paciência” (2
Timóteo 4:2).
55
Lenski, p. 853.
56
Wuest, p. 155.
57
Thayer, p. 245.
58
Fee, p. 285
59
Lenski, p. 853
60
Lattimore, p. 462.
61
Mounce, p. 553
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32
A base sobre a qual alguém executa tudo do exposto acima é a “doutrina” (v. 2, KJV).
Nós refutamos com argumentos o herege, de forma que ele possa ver o erro de sua falsa
doutrina
; nós o repreendemos de forma que ele possa ser advertido das conseqüências
de aderir a tal
doutrina; nós então o exortamos a crer e viver de acordo com a
verdadeira
doutrina. “A doutrina é o fundamento e a fonte de toda vida religiosa, a falsa
doutrina de uma vida religiosa falsa, a doutrina verdadeira da religião genuína e da vida
verdadeiramente cristã. Toda Escritura, que é cheia de fatos religiosos,
é
doutrina…Estar sem esta doutrina é ser deixado nas trevas...é ser levado de um lado
para o outro por todo vento de falso ensino, como um navio desprotegido que está à
mercê das ondas...uma condição lastimável”.
62Mounce pensa que a ênfase aqui está
sobre o ato de ensinar antes do que sobre o que é ensinado; contudo, ele admite que “é o
evangelho, a palavra, que é ensinado”.
63Um ministro excelente possui tremendos
insights
doutrinários, ele é capaz de conduzir o povo de Deus com “conhecimento e
entendimento” (Jeremias 3:15), e ensina a verdade a eles com grande paciência e
perseverança.
62
Lenski, p. 853-854.
63
Mounce, p. 574.
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33
10. DEUS DÁ O CRESCIMENTO
Nós temos sumarizado o ministério da pregação como ensinado no versículo 2, e agora
chegamos a uma objeção que pode ter sido levantada na mente do leitor há muito tempo
atrás: Como pode tal abordagem intelectualista, autoritária, não-prática, sem humor, e
sem imaginação ganhar o interesse da audiência? A apresentação não será tediosa, se
não repulsiva? E o sermão semelhante a uma palestra, já escrito num manuscrito e lido
pelo ministro, não se tornará monótono, senão insuportável?
A questão é colocada nos termos pejorativos que provavelmente refletem a atitude do
objetor, mas temos que tratar com os assuntos relacionados a intelecto, autoridade,
pragmatismo, humor e narrativas na pregação, bem como com as vantagens de escrever
o sermão. A objeção agora sendo considerada é uma pragmática, a saber, alguém que
acha difícil aceitar que tal atitude para com a pregação atrairá alguém, ou produzirá
efeito positivo. Podemos repetir nossa afirmação anterior que as preocupações
pragmáticas não podem formar nenhuma objeção de forma alguma, mas há mais
respostas detalhadas.
Para começar, podemos citar o final do versículo do nosso texto para esse estudo: “Pois
virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos
ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos” (2
Timóteo 4:3). Timóteo é ordenado a pregar da maneira descrita no versículo 2
precisamente porque “virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina”. Ele deve
refutar, repreender e exortá-los, antes do que se acomodar a eles. A solução bíblica é
confrontação, não acomodação.
Adicionalmente, Paulo escreve que essas pessoas “não suportarão a sã doutrina”, pelo
contrário, “juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos”. Para a
pregação de alguém ser naturalmente de interesse para tais indivíduos, tal pessoa deve
ser um desses professores que “dizem o que os ouvidos deles com coceira querem
ouvir”. O pregador que tem o atrair os seus ouvintes como a sua prioridade, deve então
mudar a sua doutrina, não apenas a sua apresentação.
Charles Swindoll fala por muitos quando diz: “A teologia precisa ser interessante”,
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mas ele está errado. Pelo contrário,
os verdadeiros cristãos estão interessadosem
teologia — o conhecimento de Deus é inerentemente desejável aos regenerados, e os
separa daqueles que não são. Os pregadores são obrigados a apresentar todo o escopo da
revelação bíblica com clareza e exatidão, mas ser atencioso é responsabilidade do
ouvinte. Alguém que já não está interessado em teologia deve examinar a si mesmo,
para ver se ele está de fato na fé. O versículo 3 diz que muitos não ouvirão; a crise não é
que muitos pregadores serão tediosos.
Assumindo que a doutrina do pregador é pura, a Bíblia repreende os ouvintes por não
produzirem fruto espiritual, mas com a soberania de Deus como o fator determinante.
Jesus explica a parábola do semeador da seguinte forma:
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Charles R. Swindoll, Growing Deep in the Christian Life; Grand Rapids, Michigan: Zondervan
Publishing House, 1986, 1995; p. 10.
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Quando alguém ouve a mensagem do Reino e não a entende, o Maligno vem e
lhe arranca o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira
do caminho. Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que
ouve a palavra e logo a recebe com alegria. Todavia, visto que não tem raiz em
si mesmo, permanece pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou
perseguição por causa da palavra, logo a abandona. Quanto ao que foi semeado
entre os espinhos, este é aquele que ouve a palavra, mas a preocupação desta
vida e o engano das riquezas a sufocam, tornando-a infrutífera. E, finalmente, o
que foi semeado em boa terra: este é aquele que ouve a palavra e a entende, e dá
uma colheita de cem, sessenta e trinta por um. (Mateus 13:19-23)
“Quem tem ouvidos, ouça” (v. 8), Jesus diz. Quando Deus enviou o profeta Ezequiel
para falar a Israel, ele ordenou: “Filho do homem, vá agora à nação de Israel e diga-lhe
as minhas palavras” (Ezequiel 3:4, também 12:2). Contudo, ele também diz: “Mas a
nação de Israel não vai querer ouvi-lo porque não quer me ouvir, pois toda a nação de
Israel está endurecida e obstinada” (v. 7). Israel estava indisposto para ouvir Ezequiel
porque suas mentes estavam “endurecidas e obstinadas” contra Deus, não porque
Ezequiel era um orador ineficaz.
Assim, Deus disse ao profeta: “Você lhes falará as minhas palavras, quer ouçam quer
deixem de ouvir, pois são rebeldes. Mas você, filho do homem, ouça o que lhe digo.
Não seja rebelde como aquela nação; abra a boca e coma o que vou lhe dar” (2:7-8). 2
Timóteo 4:2 prescreve para nós o ministério da pregação segundo a tradição dos
apóstolos, e recusar falar de uma maneira quando temos sido comissionados para falar
dessa forma, é rebelião contra Deus.
Não somente os ouvintes são culpados por rejeitar a mensagem, mas uma recepção
positiva da mensagem é correspondentemente creditada à audiência: “Também
agradecemos a Deus sem cessar o fato de que, ao receberem de nossa parte a palavra de
Deus, vocês a aceitaram, não como palavra de homens, mas conforme ela
verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em vocês, os que
crêem” (1 Tessalonicenses 2:13).
Para a explanação ser completa, mencionaremos que tudo isso é verdade no nível
humano, mas no final das contas é Deus quem opera numa pessoa para desejar e agir:
“...pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a
boa vontade dele” (Filipenses 2:13). Outras passagens relevantes incluem 1 Coríntios
3:6-7 e Romanos 9:18: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer; de
modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus,
que efetua o crescimento”; “Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e
endurece a quem ele quer”.
Contra a objeção que o tipo de pregação proposta nessas páginas é impossível para a
maioria dos ouvintes compreender, a Escritura novamente coloca o dever de captar a
mensagem sobre os ouvintes, e enfatiza que Deus é aquele que dá entendimento:
“Reflita no que estou dizendo, pois o Senhor lhe dará entendimento em tudo” (2
Timóteo 2:7). Antes do que acomodar aos ouvintes de formas não garantidas por
preceitos bíblicos, o pregador deve urgir a congregação a ser mais estudiosa. Contudo, é
Deus somente quem dá entendimento. Na pregação eu informo, argumento, repreendo, e
exorto com a sã doutrina, mas depende da graça soberana de Deus, que usa as palavras
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por meio da quais converte e edifica os ouvintes. Portanto, o “livre-arbítrio” dos
humanistas é negado.
O pragmatismo é impraticável, o humor distrai, e a narrativa é ambígua — dê-me uma
palestra teológica ao invés disso. Pregue a palavra para mim; refute as falsas doutrinas
que desejam me seduzir; repreenda-me nas áreas onde eu posso estar enganado; exorteme
a renovar meu comprometimento de crer e obedecer a Escritura. Passar por todos os
tipos de ginásticas retóricas para ocultar a falta de substância do sermão somente gera
desdém pelo pregador na minha mente. Se ele estiver fora de si, eu preferiria ouvir um
capitulo de um livro-texto de seminário ou de um comentário bíblico, no lugar do que
ele pensa ser um sermão apropriado.
Tudo depende da condição dos ouvintes e da obra de Deus dentro deles. Muitas pessoas
consideram a Bíblia desinteressante, mas os verdadeiros cristãos não ousam tentar
modificar sua mensagem ou apresentação por causa disso, nem eles sentem a
necessidade de assim o fazer. Eles percebem que a falta está nos ouvintes, não na Bíblia.
Da mesma forma, é responsabilidade dos ouvintes apreciar o tipo de pregação advogada
aqui. Do ministro não é requerido fazer o sermão apelativo ao povo. Em resposta à
objeção de que ele pode, todavia, tentar fazer algo para capturar a atenção deles, o modo
apropriado de fazer um sermão mais interessante é aumentar o seu conteúdo doutrinário,
não adicionar piadas e estórias.
Há muito que ser dito ainda, mas tenho delineado muitas das idéias principais. Ao invés
de ajustar a apresentação deles à cultura contemporânea, os ministros são autorizados a
ordenar os cristãos a serem interessados em ouvir sermões doutrinários. Aquele que
odeia entendimento pode continuar odiando-o, mas a necessidade mais urgente na igreja
hoje é uma maior compreensão e apreciação intelectual de teologia, que
consequentemente fornecerá o único fundamento a partir do qual podemos proceder
para resolver as outras questões importantes. O caminho para efetuar tal aprimoramento
é através de palestras teológicas, uma forma de ensino que até mesmo o sermão regular
deveria assumir.
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