Autor: Inácio de Antioquia (30-107 d.C.)
Bispo (pastor) da Igreja de Antioquia, que foi martirizado por sua fé no Senhor Jesus Cristo.
Esta epístola foi escrita em Esmirna pouco antes de Inácio ser levado a Roma para ser morto, por ocasião da visita que lhe fez Onésimo, pastor da Igreja de Éfeso.
Introdução
Inácio, que é também chamado Teóforo, à Igreja que está em Éfeso, na Ásia, por mérito muito bem-aventurada, sendo abençoada nas grandezas e plenitudes de Deus o Pai, e predestinada antes do início dos tempos, e que será sempre para uma duradoura e imutável glória, sendo unidos e eleitos através do verdadeiro sacrifício pela vontade de Deus o Pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador nosso: Abundante gozo por Jesus Cristo, e Seu imaculado júbilo.
Capítulo I - Elogio aos Efésios
Tenho sido informado de vosso mui-querido nome em Deus, o qual tendes adquirido pelo hábito da justiça, de acordo com a fé e o amor em Cristo Jesus nosso Salvador. Sendo seguidores do amor de Deus para com o homem, e encorajando-vos através do sangue de Cristo, haveis perfeitamente efetuado a obra que vos foi confiada.
Porque, ouvindo que vim preso da Síria por amor de Cristo, nossa esperança comum, crendo que por vossas orações terei permissão de combater com as feras em Roma, para que desta forma pelo martírio eu possa verdadeiramente tornar-me discípulo Dele "o qual se entregou a si mesmo por nós, uma oferta e um sacrifício a Deus," [vós vos apressastes em ver-me]. Tenho deste modo recebido todos vós em nome de Deus, através de Onésimo, um homem de inexprimível amor, e que é vosso bispo, a quem vos clamo por Jesus Cristo que amai, e que deveis vós todos imitar. Bendito seja Deus, que vos tem permitido, que [já] são vós mesmos excelentes, obter um tão excelente bispo.
Capítulo II - Congratulações e súplicas
Como para nosso conservo Burrhus, vosso diácono em atenção a Deus e abençoado em todas as coisas, oro que possa continuar irrepreensível para honra da Igreja, e de vosso mui-abençoado bispo. Crocus também, digno de Deus e de vós, a quem temos recebido como manifestação de vosso amor para conosco, tem em todas as coisas me restaurado as forças, e "não se envergonhou das minhas cadeias," como o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo tem também lhe restaurado as forças; juntamente com Onésimo, e Burrhus, e Euplo, e Fronto, por meio de quem tenho, assim por amor, visto a todos vós. Possa eu sempre ter alegria por vós, se de fato for digno disto.
É, portanto, conveniente que por todos os meios glorifiqueis a Jesus Cristo, o qual vos têm glorificado, [e o façais] através de uma obediência unânime "sendo perfeitamente unidos, juntos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer, e que possam todos dizer uma mesma coisa sobre uma mesma coisa", e que, sendo sujeitos ao bispo e ao presbitério, possais em tudo ser santificados.
Capítulo III - Exortação à unidade
Não vos imponho mandamentos, como se eu fosse alguma grande pessoa. Porque ainda que esteja em cadeias por Seu nome, não sou ainda perfeito em Jesus Cristo. Porque agora começo a ser um discípulo, e falo a vós como meus conservos. Porque me foi necessário ser admoestado por vós em fé, exortação, paciência, e longanimidade. Mas visto que o amor não me permite silenciar a vosso respeito, tenho, por esta razão, tomado sobre mim o exortar-vos de que vós deveis andar juntos, de acordo com a vontade de Deus. Porque mesmo Jesus Cristo faz todas as coisas de acordo com a vontade do Pai, como Ele mesmo declara em certo lugar: "eu faço sempre as coisas que lhe agradam." Por esta razão nos convém também viver de acordo com a vontade de Deus em Cristo, e imitá-lo como Paulo o fez. Porque ele diz: "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo."
Capítulo IV - Exortação à unidade (continuação)
Portanto, vós também deveis andar juntos de acordo com a vontade do bispo que por designação de Deus preside sobre vós. Algo que em verdade vós, por vós mesmos, [já] fazeis, sendo instruídos pelo Espírito. Porque vosso justamente reputado presbitério, sendo digno de Deus, está ajustado tão precisamente ao bispo como as cordas estão à harpa.
Deste modo, sendo unidos em concorde e harmonioso amor, do qual Jesus Cristo é o Capitão e Guardião, fazei vós, homem a homem, o tornar-vos um coro único; para que, sendo de uma mesma opinião, juntos, em concordância, e recebendo uma comunhão com Deus em unidade, possais vós verdadeiramente ser um em harmonioso sentimento com Deus o Pai, e Seu amado Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Já que, diz Ele: "Concede-lhes, Pai santo, que como Eu e Tu somos um, possam eles também ser um em nós". É consequentemente proveitoso que vós, estando unidos com Deus em uma irrepreensível unidade, sejais seguidores do exemplo de Cristo, de quem sois vós também membros.
Capítulo V - O Louvor à unidade
Pois se eu, neste breve espaço de tempo, tenho gozado tal companheirismo com vosso bispo - e digo não de uma natureza meramente humana, mas de uma espiritual - quanto mais vos considero felizes, porque dependem dele como a Igreja depende do Senhor Jesus, e o Senhor de Deus o Seu Pai, pois que sendo assim todas as coisas devem concordar em unidade!
Não permitam homem algum enganar-se: se qualquer não estiver dentro do altar, está privado do pão de Deus. Porque se a oração de um ou dois possui tal poder que Cristo se põe no meio deles, quão mais poderá a oração do bispo e de toda a Igreja, ascendendo em harmonia a Deus, prevalecendo pela concessão de todas as suas petições em Cristo! Aquele, portanto, que se separa disto, e não encontra no seu convívio onde os sacrifícios são oferecidos, com "a Igreja do primogênito cujos nomes estão escritos nos céus," é um lobo em vestes de ovelha, enquanto apresenta uma suave aparência exterior.
Vós, amados, sede atentamente sujeitos ao bispo, e aos presbíteros e aos diáconos. Porque aquele que lhes é sujeito, é obediente a Cristo que os ordenou; mas aquele que lhes é desobediente, é desobediente a Cristo Jesus. E "aquele que não obedece ao Filho não verá vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele". Porque aquele que não rende obediência aos seus superiores é autoconfiante, irascível, e orgulhoso.
Mas "Deus," diz [a Escritura]: "resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes;" e o soberbo tem grandemente transgredido. O Senhor também diz aos pastores: "Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem Me ouve, ouve ao Pai que Me enviou. Quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou".
Capítulo VI - Ter respeito pelo bispo como ao próprio Cristo
Quanto mais, então, vós virdes o bispo mostrando clemência, mais devei vós respeitá-lo. Porque devemos receber cada um a quem o Mestre da casa enviar para estar sobre Sua casa, como faríamos com Aquele que o enviou. É manifesto então, que devemos olhar para o bispo como nós olharíamos para o próprio Senhor, postado, como está ele, diante do Senhor. Porque "convém ao homem que olhe cuidadosamente por si, e seja diligente em sua atividade, para estar perante reis, e não perante homens indolentes".
E em verdade o próprio Onésimo elogia grandemente vossa boa ordem em Deus, pois que vós todos viveis de acordo com a verdade, e que nenhum partidarismo 'tem qualquer amparo entre vós. Nem em verdade vós ouvis a qualquer outro além de Jesus Cristo, o verdadeiro Pastor e Mestre. E que vós sois como Paulo vos escreveu: "um só corpo e um só espírito, porque vós tendes também sido chamados em uma só esperança de fé". Desde que também "há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um Deus e Pai de todos, que é sobre todos, e por todos, e em todos". Tal, então, sois vós, tendo sido ensinados por tais instrutores, Paulo o proclamador de Cristo, e Timóteo o mais fiel.
Capítulo VII - Guardar-se dos falsos mestres
Mas algumas pessoas grandemente indignas têm por hábito levar o nome [de Jesus Cristo] em pecaminosa fraude, enquanto ainda praticam coisas desonrosas a Deus, e sustentam opiniões contrárias às doutrinas de Cristo, para sua própria destruição, e daqueles que lhes derem crédito, aos quais vós deveis evitar como faríeis com bestas selvagens. Porque "o justo que os evita é guardado para sempre, mas a destruição do ímpio é repentina, e objeto de júbilo". Porque "são cães mudos, que não podem ladrar," delirando loucamente, e mordendo secretamente, contra quem vós deveis estar em guarda, já que trabalham debaixo de incurável doença.
Mas nosso Médico é o único verdadeiro Deus, o não gerado e incomparável, o Senhor de todos, o Pai e progenitor do unigênito Filho. Nós temos também como Médico o Senhor nosso Deus, Jesus o Cristo, o unigênito Filho e a Palavra, desde antes do início dos tempos, mas que em outro tempo fez-se também homem, através de Maria a virgem. Porque "a Palavra se fez carne". Sendo imaterial, esteve em corpo, sendo que não padecia, esteve em corpo sujeito a padecer; sendo imortal, esteve em corpo mortal; sendo vida, tornou-se sujeito à morte, que Ele possa livrar nossas almas da morte e da corrupção, e as curar, e possa restaurá-las à saúde, quando estiverem doentes com ímpia e perversa concupiscência.
Capítulo VIII - Renovado elogio aos Efésios
Não permitais que ninguém vos engane, como em verdade não sois enganados; pois sois inteiramente devotados a Deus. Portanto então, não há mau desejo entre vós, que vos possa perverter e atormentar, consequentemente viveis em conformidade com a vontade de Deus, e sois [servos] de Cristo.
Expulsai o que vos perverte a vós que sois da santíssima Igreja de Éfeso, a qual é assim afamada e celebrada através do mundo. Aqueles que são carnais não podem fazer as coisas que são espirituais, nem os que são espirituais, coisas que são carnais; tal qual a fé não pode fazer a obra da incredulidade, nem a incredulidade as obras da fé. Mas vós, sede cheios do Santo Espírito, nada façais de conformidade com a carne, mas todas as coisas de conformidade com o Espírito. Vós sois completos em Cristo Jesus, "que é o Salvador de todos os homens, principalmente daqueles que crêem".
Capítulo IX - Não tendes dado atenção aos falsos mestres
Todavia, tenho ouvido sobre alguns que têm passado entre vós, sustentando a perversa doutrina do estranho e maldoso espírito; aos quais vós não permitistes entrada para semear suas pragas, mas fechastes os vossos ouvidos, pois não deveis receber o erro que foi por eles proclamado, sendo persuadidos de que o espírito que engana o povo não fala as coisas de Cristo, mas as suas próprias, porque ele é um espírito mentiroso.
Mas o Santo Espírito não fala Suas próprias coisas, mas aquelas de Cristo, e isto não de si mesmo, mas provenientes do Senhor; do mesmo modo que o Senhor também nos anunciou as coisas que Ele recebera do Pai. Pois, diz Ele "a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que Me enviou." E diz Ele do Santo Espírito: "Ele não falará de si mesmo, mas todas as coisas que tiver ouvido de Mim." E Ele diz de Si mesmo ao Pai: "Eu tenho", diz Ele, "Te glorificado na terra; tendo consumado a obra que me deste; Tenho manifestado Teu nome aos homens." E do Santo Espírito: "Ele Me glorificará, porque recebe de Mim."
Mas o espírito do engano prega a si mesmo, e fala suas próprias coisas, porque busca satisfazer a si mesmo. Ele se glorifica a si mesmo, porque é cheio de arrogância. Ele é mentiroso, fraudulento, suavizante, lisonjeiro, traiçoeiro, entusiástico, superficial, inarmônico, falador, vil e covarde. Do seu poder Jesus Cristo vos libertará, pois vos têm firmado sobre a rocha, como pedras escolhidas, bem talhadas para o divino edifício do Pai; e que sois alçados ao alto por Cristo, que foi crucificado por vós, fazendo uso do Espírito Santo como cabo, e sendo guiados pela fé, enquanto elevados pelo amor da terra aos céus, andando em companhia daqueles que são imaculados. Porque, diz [a Escritura], "Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do SENHOR." Agora o caminho é infalível, a saber, Jesus Cristo. Porque, diz Ele: "Eu sou o caminho e a vida," E este caminho leva ao Pai. Porque "ninguém," diz Ele, "vem ao Pai senão por Mim".
Bem-aventurados, então, sois vós que sois portadores de Deus, portadores do espírito, portadores do templo, portadores de santidade, adornados de todas as formas com os mandamentos de Jesus Cristo, sendo "um sacerdócio real, uma nação santa, um povo adquirido" por cuja conta muitíssimo me regozijo, tenho tido o privilégio, por esta Epístola, de conversar com "os santos que estão em Éfeso, fiéis em Cristo Jesus." Alegro-me, portanto, por vós, que não dais atenção à vaidade, e não amais a nada conforme a carne, mas conforme Deus.
Capítulo X - Exortação à oração, humildade, etc.
E orai sem cessar em favor de outros homens; porque há esperança de arrependimento, para que eles possam chegar a Deus. Pois "não pode aquele que cai levantar-se novamente, e aquele que se desvia retornar"? Permita-os, então, serem por vós instruídos. Sejais vós por esta razão ministros de Deus, e boca de Cristo. Porque assim diz o Senhor: "se apartardes o precioso do vil, sereis como a minha boca".
Sede vós humildes em resposta à sua fúria; oponde-vos às suas blasfêmias com as vossas mais fervorosas orações; enquanto se desviam, permanecei firmes na fé. Conquistai seus rudes temperamentos com gentileza, [e] suas paixões com mansidão. Porque "bem-aventurados são os mansos" e Moisés foi o mais manso entre os homens; e Davi foi excepcionalmente manso. Razão pela qual Paulo exorta como segue: "O servo do Senhor não deve contender, mas ser manso para com todos, apto a ensinar, paciente, em mansidão instruindo os que resistem".
Não busqueis vingar-vos a vós mesmos daqueles que vos injuriastes, pois diz [a Escritura]: "Se paguei com mal àqueles que a mim retornaram mal". Façamos deles irmãos por meio de nossa bondade. Portanto dizei vós àqueles que vos odeiam: Vós sois nossos irmãos, para que o nome do Senhor possa ser glorificado.
E imitemos o Senhor: "quando o injuriavam, não injuriava." Quando foi crucificado, não respondeu: "quando padecia não ameaçava", mas orou por Seus inimigos: "Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem" . Se alguém, por quanto mais for injuriado, mais demonstrar paciência, bem-aventurado seja. Se alguém é defraudado, se alguém é desprezado, pelo nome do Senhor, este verdadeiramente é um servo de Cristo. Tende cuidado que nenhuma pequena muda do diabo seja encontrada entre vós, pois tal muda é amarga e salgada. "Vigiai, e sede sóbrios", em Cristo Jesus.
Capítulo XI - Uma exortação ao temor a Deus, etc.
Os últimos tempos se aproximam. Sejamos por esta razão de espírito reverente, e temamos a longanimidade de Deus, a fim de que não desprezemos as riquezas de Sua benignidade e clemência. Portanto, tanto temamos a ira que há de vir, quanto amemos o gozo presente, na vida que agora aí está; e que nossa atual e verdadeira alegria seja só esta: ser encontrado em Cristo Jesus, por quem verdadeiramente vivemos.
Em momento algum desejai algo, mesmo que seja somente respirar, sem a presença Dele. Porque Ele é minha esperança, Ele é minha exultação; Ele é minha riqueza infalível, por cuja razão eu levo sobre mim estas cadeias da Síria a Roma, estas jóias espirituais, nas quais possa eu ser aperfeiçoado por vossas orações, e tornar-me um participante dos sofrimentos de Cristo e ter parte com Ele em Sua morte, Sua ressurreição dos mortos, e Sua vida eterna.
Que eu possa a isto alcançar, para ser contado com o grupo dos Cristãos de Éfeso, que tem sempre tido comunicação com os apóstolos através do poder de Jesus Cristo: com Paulo, e João, e Timóteo o mais fiel.
Capítulo XII - Elogio aos Efésios
Conheço tanto quem sou, quanto a quem escrevo. Sou o mui insignificante Inácio, sou como aqueles que estão expostos ao perigo e à condenação. Mas vós tendes sido objeto de misericórdia, e estais estabelecidos em Cristo. Sou aquele entregue [à morte], mas o menor de todos os que têm sido cortados por amor de Cristo: "desde o sangue de Abel, o justo" , até o sangue de Inácio.
Vós estais instruídos nos mistérios do Evangelho por Paulo, o santo, martirizado, visto que ele foi "um vaso escolhido", aos pés de quem possa eu ser achado, e aos pés do restante dos santos, quando for achegar-me a Jesus Cristo, que sempre tem cuidado de vós em Suas orações.
Capítulo XIII - Exortação à freqüente congregação para o culto a Deus.
Tente atenção, então, de estar freqüentemente juntos em ação de graças a Deus, e anunciando Seu louvor. Pois quando vós estais freqüentemente reunidos em um mesmo lugar, os poderes de Satanás são destruídos, e seus "dardos inflamados", ansiando por pecado, recuam sem produzir efeito. Para que a vossa concorde e harmoniosa fé prove a sua destruição, e o tormento de seus assistentes.
Nada é melhor que aquela paz que é de acordo com Cristo, pela qual toda guerra, tanto com espíritos aéreos quanto com terrestres, é trazida ao fim. "Porque não lutamos contra sangue e carne, mas contra os principados e potestades, e contra os príncipes das trevas deste século, contra a maldade espiritual nos lugares celestiais."
Capítulo XIV - Exortações à fé e ao amor
Motivo pelo qual nenhum dos instrumentos do diabo vos estará oculto, se, como Paulo, vós perfeitamente possuirdes a fé e o amor para com Cristo o qual é o início e a conclusão da vida.
O início da vida é a fé, e a conclusão é o amor. E estes dois sendo inseparavelmente conectados, fazem perfeito o homem de Deus; [e] quanto a todas as outras coisas que são requisitos para uma vida santa, segui-as: Nenhum homem fazendo profissão de fé deve pecar, nem alguém dotado de amor, odiar a seu irmão. Porque Aquele que diz: "Amarás ao Senhor teu Deus", também diz "e ao teu próximo como a ti mesmo". Aqueles que a si mesmos professam ser Cristãos são conhecidos não somente pelo que dizem, mas pelo que praticam: "porque a árvore é conhecida pelo seu fruto".
Capítulo XV - Exortação à confissão de Cristo tanto pelo silêncio quanto pelo discurso
É melhor para um homem estar em silêncio e ser, que falar e não ser. "O reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder." Homens "crede com o coração, e confessai com a boca," com o primeiro "para a justiça," e com o outro "para a salvação." É bom ensinar, se aquele que fala também cumpre. Porque aquele que faz ambos "ensina e cumpre, o mesmo será grande no reino".
Nosso Senhor e Deus, Jesus Cristo, o Filho do Deus vivente, primeiro fez e então ensinou, como Lucas testifica: "de quem o louvor é no Evangelho através de todas as Igrejas." Não há nada que esteja oculto ao Senhor, mesmo nossos mais íntimos segredos estão próximos Dele. Façamos então todas as coisas como aqueles que O tem habitando em nós; que possamos ser Seus templos, e que Ele possa estar em nós como Deus. Deixemos Cristo falar em nós, assim como Ele fez em Paulo. Deixemos o Santo Espírito nos ensinar a falar as coisas de Cristo da mesma forma como Ele fez.
Capítulo XVI - O destino dos falsos mestres
Não erreis, meus irmãos. Aqueles que corrompem as famílias não herdarão o reino de Deus. E se aqueles que corrompem meras famílias humanas são condenados à morte, como muito mais deverão sofrer a punição eterna aqueles que se empenham em corromper a Igreja de Cristo, pela qual o Senhor Jesus, o unigênito Filho de Deus, sofreu a cruz, e se submeteu à morte!
Aquele que "engordando-se" e "tornando-se inflado", torna em nada Sua doutrina, deverá ir ao inferno. Da mesma forma, qualquer que tenha recebido de Deus o poder de discernimento, e ainda segue a um pastor incapaz, e recebe uma falsa opinião como sendo verdade, deve ser punido: "Que comunhão tem a luz com as trevas? Ou Cristo com Belial? Ou que parte tem o fiel com um infiel? Ou o templo de Deus com os ídolos?" E semelhantemente digo: que comunhão tem a verdade com a falsidade? Ou a justiça com a injustiça? Ou a verdadeira doutrina com aquela que é falsa?
Capítulo XVII - Cuidado com as falsas doutrinas
Para este fim o Senhor permitiu que o ungüento fosse derramado sobre Sua cabeça, para que Sua Igreja pudesse depois respirar imortalidade. Pois diz [a Escritura]: "Teu nome é como ungüento derramado; por isto as virgens te amam; leva-me tu;" pelo odor dos teus ungüentos iremos nós a ti.
Não permitamos que ninguém seja ungido com o mau cheiro da doutrina do [príncipe] deste mundo; não permitamos que a santa Igreja de Deus seja levada cativa por sua sutileza, como o foi a primeira mulher.
Por que nós, sendo dotados de razão, não agimos sabiamente? Quando tendo recebido de Cristo, e tendo em nós se corrompido a faculdade de julgamento concernente às coisas de Deus, por que não caímos abruptamente na ignorância? E por que, por descuidada negligência de reconhecermos o presente que temos recebido, tolamente perecemos?
Capítulo XVIII - A glória da cruz
A cruz de Cristo é em verdade um obstáculo àqueles que não crêem, mas para o crente é salvação e vida eterna. "Onde está o sábio? Onde está o inquiridor?" Onde está a arrogância daqueles que são chamados de poderosos?
Porque o Filho de Deus, que desde antes dos tempos, estabeleceu todas as coisas de acordo com a vontade do Pai, Ele foi concebido no ventre de Maria, de acordo com o desígnio de Deus, da semente de Davi, e pelo Espírito Santo. Porque diz [a Escritura]: "Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e Ele será chamado Emanuel". Que Aquele que nasceu e foi batizado por João, ratifique a instituição consignada àquele profeta.
Capítulo XIX - Três célebres mistérios
Agora a virgindade de Maria foi oculta do príncipe deste mundo, como foi também sua descendência, e a morte do Senhor; três mistérios notórios, que foram formados em silêncio, mas que nos têm sido revelados. Uma estrela brilhou no céu sobre tudo o que havia diante dela, e sua luz foi indescritível, enquanto seu surgimento atingiu os homens com perplexidade. E todo o restante das estrelas, com o sol e a lua, formou um coro para esta estrela. Ela em muito excedeu a todos em brilho, e agitação foi sentida assim que este novo espetáculo [ocorreu]. Daí a sabedoria do mundo se tornou em loucura; o encantamento foi visto como sendo mera futilidade; e a mágica se tornou completamente ridícula. Cada lei de maldade se desvaneceu; a escuridão da ignorância foi dispersa; e a autoridade tirânica foi destruída, Deus se manifestou como homem, e homem mostrando poder como Deus. Mas, não foi o primeiro [evento] uma mera imaginação, nem o segundo implica uma humanidade desnuda, mas o primeiro foi absolutamente verdade, e o outro um proveitoso acerto. Agora que recebemos um princípio que foi aperfeiçoado por Deus. Daqui em diante todas as coisas estarão em estado de tumulto, porque Ele refletiu a abolição da morte.
Capítulo XX - Exortação à firmeza e à unidade
Não cedais, irmãos, na fé em Jesus Cristo, e em Seu amor, em Seu sofrimento, e em Sua ressurreição. Sigamos todos juntos em comunhão, e individualmente, pela graça, em uma só fé em Deus o Pai, e em Jesus Cristo Seu unigênito Filho, e "o primogênito de toda a criação," mas da semente de Davi conforme a carne, mantendo-nos sob a orientação do Consolador, em obediência ao bispo e ao presbitério com mente não dividida, partindo um e o mesmo pão. Isto é o medicamento da imortalidade, e o antídoto que previne que morramos, o remédio purificador guiando-nos para longe do mal, [que faz] com que vivamos em Deus através de Jesus Cristo.
Capítulo XXI - Conclusão
Possa eu, por minha vez, ser o meio para a restauração de vossas forças e daqueles que, para a honra de Deus, vós enviastes a Esmirna; por esta razão também vos escrevo, dando graças ao Senhor, e amando a Policarpo da mesma forma que vos amo. Lembrai de mim, como Jesus Cristo também tem se lembrado de vós, o qual é bendito eternamente. Orai pela Igreja de Antioquia que está na Síria, de onde sigo preso para Roma, sendo o menor dos fiéis que lá estão, mesmo que tenha sido considerado merecedor de carregar estas correntes para a honra de Deus. Bem vos vá, em Deus o Pai, e no Senhor Jesus Cristo, nossa esperança comum, e no Espírito Santo. Bem vos vá. Amém. A graça seja convosco.