Capítulo 4

4. Arrependimento

Não poucas pessoas têm me perguntado o que, na verdade, é arrependimento. Pelo menos, o que creio, ou o que nós Batistas, como todas as Igrejas bíblicas, pensamos a respeito. Não é difícil expressar as respostar, pois é algo que não somente já faz parte no espírito humano, mas também é algo difundido abertamente em nossa cultura cristianizada.

Uma primeira idéia, até que muito aceita, é a de “mudar de opinião” sobre algo. É como se o estado de pecado, numa pessoa, se mantivesse pelo interesse, pela vontade que cada homem tem de insistir numa opinião quanto ao que ser e o que fazer em relação ao Senhor Deus e Sua vontade soberana. Esta idéia é compreensiva, é muito boa, mas cremos que podemos ir mais além. Ela é, cremos, intrínseca. Iremos para uma explicação extrínseca.

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Esta é uma segunda idéia também muito aceita. De uma forma bem grosseira, bem geral, o grego do Novo Testamento, e o hebraico do Velho Testamento, querem dizer assim. Da mesma forma, não fica difícil as pessoas entenderem esta versão.

Arrependimento é como alguém que, desde seu nascimento, caminha em direção a um grande precipício, onde milhões e milhões de pessoas fazem o mesmo e se auto-destroem sem hesitar momento algum. Onde, por mais que alguém avise, as multidões continuam indo naquela direção sem parar. Bem parecido com o que vejo aqui em Teixeira de Freitas em dia de “bingo”, onde gente, como formiga, passa e passa, sem nunca parar, em direção ao estádio de futebol; vai gente por todos os lados da avenida, das ruas paralelas, todas em direção ao mesmo lugar. Pois bem, Arrependimento é uma, e outra, e outra, destas milhares de pessoas que seguem na mesma direção, pararem, refletirem sobre o que estão fazendo, e imediatamente deixarem a onda seguida por todos, e mudarem a direção de suas vidas.

Aos olhos de Deus, isto é arrependimento. Isto, mesmo que seja uma só pessoa, é motivo de muita festa no céu, o que Jesus expressou nas parábolas em Lucas, da ovelha perdida – 15:3-7, da dracma perdida – 15:8-10, e do filho pródigo – 15:11-32.

Há um quadro, que em tempos atrás foi muito difundido, ilustrando “os dois caminhos” da eternidade. Uma porta larga conduzindo aos prazeres do mundo, e por fim ao inferno, onde muitas pessoas passam por ela; e uma porta bem estreita e baixa sem nenhum atrativo que conduz a um caminho estreito e por fim ao céu, onde poucas pessoas passam por ela. Tenho dito que aquela porta estreita é justamente, a porta do arrependimento. Quem opta por seguir a porta larga chegará ao inferno, mas quem deixa aquela caminho largo, e se direciona à porta estreita, e entra por ela, chega ao céu. Isto é voltar atrás, deixar o caminho largo, isto é arrependimento.

Passos

O entrar por esta porta estreita se notabiliza por quatro passos fundamentais, quase simultâneos, onde o seguinte depende de se ter dado o passo anterior. É impossível ir ao quarto passo, sem primeiro andarilhar pelos anteriores. Se faltar um só passo, caracteriza-se um falso arrependimento, um “voltar atrás” só de aparência, para enganar a si mesmo, ou tentar enganar ao Senhor.

Reconhecer. Este é o primeiro grande passo. Quem está naquela grande multidão necessita reconhecer sua situação diante de Deus, a tolice que está fazendo contra si mesmo. Certo escritor disse que “toda maioria é irracional”. Um grupo pode transtornar todos os princípios de uma pessoa, pode leva-la a comportamentos jamais imagináveis. Isto acontece com a grande maioria das pessoas que seguem em direção àquele abismo já mencionado.

Não se trata aqui de reconhecer um ou outro pecado, ou muitos atos pecaminosos, mas reconhecer verdadeiramente que é uma fábrica de pecados. Pode até não estar produzindo muitos pecados, por um outro motivo, inclusive religiosos, mas se trata de uma fábrica de atos ofensivos a Deus. O primeiro passo é reconhecer-se um “nada”, um “verme”, um “grande prejuízo” contra todos os propósitos do Senhor. Se isto não acontecer concretamente dentro do coração, os próximos passos jamais serão trilhados.

Este reconhecimento vem daquela ação, que já comentamos, do Espírito Santo, em atuar no “convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” – João 16:8. Enquanto a pessoa não dá este primeiro passo, a ponto de não conseguir rejeitar os demais passos, ela estará rejeitando esta ação divina de “convencimento”, e estará como que blasfemando do Espírito – Mateus 12:31, este é o pecado que jamais poderá ser perdoado.

É fácil assumir este passo? Imagine estar naquela grande multidão, fazendo tudo que todo mundo faz e diz que gosta, aculturizar um estilo de vida que é convencionada como a melhor neste mundo, e ainda pior, viver anos acreditando que toda pessoa que assume vida diferente para fé, é tolo, é ignorante, é “sem o que fazer”, é nada, fanático, idiota, sustentador de Pastor; no entanto, de uma hora para outra, resolver deixar de ser um “maria vai com as outras”? é fácil isto? Neste caso tem-se que lutar contra si mesmo, com o que pensa que os outros vão pensar, e com o que realmente eles vão pensar ou agir em resposta. Não é fácil de forma alguma. Esta pessoa tem que ser muito “macho”, muito “homem”, isto não é para qualquer um.

Lamentar. Este é o segundo grande passo. Uma pessoa pode até reconhecer-se pecador, uma fábrica assustadora de atos contra a santidade de Deus, mas necessariamente, não terá que lamentar esta situação, isto, também, é fruto da vontade da pessoa.

Lamentar quer dizer, uma tristeza profunda em relação ao que descobriu no reconhecimento de si mesmo. É o coração emudecer-se de infelicidade por ser tão “canalha” contra o Senhor Deus, que tanto merece o contrário. O “reconhecer” é intelectual, mas o lamentar é totalmente “emocional”. É um choro amargo na alma, diante da gravidade que está e tem sido, ao mesmo tempo, em oposição ao Todo Poderoso e a si mesmo, também ao mesmo tempo.

Este é o segundo passo, na entrada daquela porta estreita. Ele é tão importante quanto o primeiro. Sem este passo definitivo, não se chega, verdadeiramente, ao terceiro.

Pedir Perdão ao Deus Ofendido. A inércia do reconhecimento de “estado de pecado”, depois de conduzir uma pessoa pelo “lamentar”, a leva a este terceiro passo, de entrada na porta estreita do arrependimento. A esta altura, o pecador estará tão embalado, que, mesmo que queira, não conseguirá mais voltar atrás no seu arrependimento. Esta afirmativa se assemelha bem ao “Calvinismo”. É bem parecida com o que é chamado de “Graça Irresistível”.

É como a pessoa que indo com a multidão, que faz a mesma coisa que ela, sabendo até para onde está indo, qual o seu fim, junto com ela, resolver parar (reconhecer), refletir (lamentar), cair de joelhos (pedir perdão) na presença de Deus. É colocar a alma humilhada na presença do Todo Poderoso, e pedir perdão não por atos de pecados que tenha cometido, mas pelo estado de pecado que tem sido. De joelho, o arrependimento chega ao seu ápice.

Desde o início do arrependimento, desde o primeiro passo, e muito mais agora, a pessoa já abriu mão de tudo e todos. O trono de sua vida está esvaziado. As prioridades de seu viver estão sendo reformuladas, re-arrumadas, estão se organizando. Não é uma atitude consciente, mas inconsciente, está acontecendo, mesmo que a pessoa nem perceba. Está se processando, naturalmente, uma nova criação na alma do penitente, como afirma 2Coríntios 5:17.

Assumir Nova Vida. No auge em que se encontra a pessoa, diante de Deus, chega o momento de assumir um novo querer, uma nova idéia para seu viver. É o momento de fazer uma declaração entusiasmada, mas cheia de termo: Senhor Deus, eu assumo viver uma vida diferente para Ti, a partir de agora; assumo deixar todo pecado, tudo que Te ofende; assumo entregar, à Tua vontade, tudo que sou e tudo que tenho.”

Deus sabe que por si só, ninguém poderá cumprir esta promessa entusiasmada. Mas tudo fica mais fácil quando já se está operando mudanças profundas na natureza desta pessoa. Fica mais fácil ainda, quando o Espírito Santo torna-se o “Ajudador”. Assim, Deus ouve e aceita, neste momento, a nossa declaração pessoa, e não hipócrita, de que viveremos para Ele

Este quarto e último passo como entrada à porta estreita, que conduz à vida, seria o levantar da pessoa que seguia a multidão ao inferno, e o mudar de rumo, ou mais especificamente, o “voltar atrás”. Deve saber das dificuldades a enfrentará da multidão, mesmo que não intencionalmente, pois estará indo contra a onda, contra o que todo mundo está a fazer, o que sempre fez.

Neste momento do arrependimento, é que a palavra de Jesus em Marcos 10:29 se cumpre: O colocar casa, irmãos, pais, filhos e bens nos seus devidos lugares – segundo, terceiro e até último lugar. A prioridade que é dada ao Senhor vai determinar a melhor colocação a todas as demais coisas.

Certa vez, conversando com alguém sobre o fato de nunca aceitar meu convite para adorar ao Senhor na nossa igreja, em Iguaí, na Bahia, um Advogado de renome me respondeu: “Ah, Pastor, eu não tenho tempo, eu sou muito ocupado”. Porém ele voltou atrás e me disse: “Desculpe Pastor, eu menti para o senhor, Na verdade, o que acontece comigo é que infelizmente Deus não é prioridade para minha vida. Tenho achado tempo para muita coisa sem importância, porque estas coisas são valorosas para mim. No dia que Deus for prioridade real para minha existência, encontrarei muito tempo para Ele”. Eu o abracei, concordei. É isto que o último passo do arrependimento faz na vida da gente: coloca Deus, realmente em primeiro lugar nas nossas preferências.

Remorso

Há o falso arrependimento. Basicamente, ele pode ser de três tipos. Entendendo que qualquer um deles é falso, pode até serem chamados de “remorsos”. São falsos pelo fato de não levarem a pessoa pela porta estreita, de entrada ao céu. Eles podem até trazer algum resultado prático, para a própria pessoa, ou até para aqueles a quem se pretende mostrar-se arrependido, mas se não conduzem ao céu. Se não são entrada por esta porta apertada, então é falso, é enganador, é diabólico em todos os sentidos. Os termos que mencionamos para estes tipos falsos são apenas um jeito de identificá-los nesta oportunidade.

Conferindo com os “passos” que já vimos, podemos dizer que todo remorso, todo falso arrependimento é a pessoa voltar do arrepender-se antes ou durante algum dos passos necessários constituintes do entrar por esta porta estreita. É a pessoa demonstrar ou não chegar ao “reconhecer-se pecador”, ou ao “lamentar-se do que é”, ou ao “pedir perdão pelo que tem sido”, ou mesmo ao “assumir vida nova com Cristo”. Remorso é o aborto, em algum momento da gestação do arrependimento.

Arrependimento Enganador. Primeiro a ser mencionado, talvez, seja o mais falso de todos os tipos de arrependimento. Trata-se de uma falsa atitude, conscientemente produzida para produzir efeitos. A pessoa sabe que nunca passou pela porta estreita, mas vive como se isso tivesse acontecido. De tanto falar, termina acreditando que aconteceu. Muitas vezes age desta forma, por dois motivos, que se sucedem: (1)não consegue encontrar o primeiro passo para o verdadeiro arrependimento, e (2)precisa passar por arrependido para ser aceito por si mesmo e ou por outras pessoas. Pode até se submeter a isto, tentando alcançar algo do Senhor Deus.

Arrependimento Enganado. Este é perigoso. A pessoa vive um falso arrependimento, crendo que aquilo é o máximo que devera viver. Como isso também dá aparência aprovadora, então o engano se caracteriza mais ainda. A Bíblia chama de “joio no meio do trigo” (Mateus 13), aquelas pessoas que vivem como se fossem do pequeno grupo dos que passaram pela porta estreita. O joio é um vegetal que na palavra bíblica, confunde os olhos deles mesmos e de todos ao redor passando tranquilamente como se fossem trigo. O arrependimento enganado é o único responsável por esta situação. Estas pessoas, proliferadas nas igrejas bíblicas (como disse Jesus, junto ao trigo) nunca chegarão ao céu se permanecerem assim, porém viverão toda a vida imaginando dignos desta salvação eterna.

Já mencionamos antes, e temos lembrado muito em nossas pregações na igreja, e em nossas conversas sobre o tema, o que nos tem dado muita tranqüilidade até para condenar biblicamente, muita doutrina que existe por aí, e que ofende o ensino principal da Bíblia, a salvação somente pela fé – “no inferno há uma grande congregação batista, onde muitos que passaram pelo arrependimento enganado, se reunirão eternamente”. Depois, ainda, conversaremos mais um pouco sobre esta congregação no inferno.

Arrependimento Religioso. Acredito eu, que este é o arrependimento mais perigoso, porque ele recebe uma roupagem religiosa, e isto é suficiente para a grande maioria das pessoas que querem passar pela porta estreita. Este tipo de remorso atende aos critérios pessoais, humanos, que a grande massa tem, sobre vida com Deus.

Ele é mais perigoso que o remorso enganado por alguns fatores. O que mais se destaca neste perigo extremo, é que aquele precisa apenas da aprovação pessoal, mas este é produzido e aprovado pelo grupo ou pelo corpo de ensinos que este grupo determina como suficiente. Se uma igreja que ora, lê Bíblia, exige uma aparência religiosa aos seus adeptos, diz que o cumprimentos de certas regras determina um arrependimento, então is é suficiente.

A depender da religião e seus ensinos, de seus rituais, regras, repetições verbais, paz emocional, freqüência a cultos, jejuns, vigílias de oração, exorcismos e outros artifícios, estes grupos produtores de remorso religioso acreditam que tudo isto praticado por alguém demonstra que verdadeiramente passou pelo arrependimento verdadeiro. É nisto que um autor, escreveu em seu livro, afirmando que somente dez por cento dos que se dizem comprometidos com Jesus Cristo, são verdadeiramente arrependidos. Acredito que ele é muito otimista, percebo um número muito menos que isto, muito menor mesmo.

Tenho insinuado, por várias vezes, que as pessoas que estão no mais profundo pecado, e tenho incluído, por motivos vários, aqueles que estão atrás do Trio Elétrico, estão mais próximas da salvação eterna, muito mais afacilitados a chegarem à porta estreita, que um grande número de gente que vive este arrependimento religioso. Atrás do Trio Elétrico, a pessoa tem muitas chances de se descobrir no fundo do poço, muito necessitada de mudar de rumo, de ir em direção à porta estreita. Enquanto que as pessoas envolvidas no remorso religioso não sentirá esta necessidade, ficando satisfeitas congo mesmas e com a vida religiosa que leva. É neste sentido que Jesus afirma que “veio para os doentes, e não para os são” – Marcos 2:17l Quem se considera são, com certeza, jamais buscará mudar de situação. Mas aquela pessoa que s vê perdida, enferma, essa procurará a porta da salvação. Pode até pegar uma porta errada, falsa, mas sairá de sua situação em busca de uma porta verdadeira.

Há um outro momento quando Jesus diz “porfiai por entrar pela porta estreita” – Lucas 13:24. Já conversamos um pouco sobre isto em “enganados”, no capítulo “Todo Mundo Para o Inferno”. Ali dissemos que Jesus fala àqueles que, interessados em entrar pela porta estreita do arrependimento, saem cegamente e entram na primeira porta que encontram, ou que lhe pareçam a verdadeira. O remorso religioso é um grande responsável por esta situação. Provavelmente estas falsas portas se espalham pelos cantos das cidades, atraindo multidões, e o fator mais atraente é a ação sedutora que exercem para produzir este tipo de remorso.

Arrependimento para Nascer

Conversaremos agora sobre o verdadeiro arrependimento. Ele tem dois momentos fundamentais. O primeiro momento é o “Para Nascer”. Basicamente é o que já vimos naqueles passos. Ele contratas com o “Arrependimento para Morrer”, que são os remorsos.

Atos 2:38 “Arrependei-vos diante de Deus, e sejam imersos no nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e, então, recebereis o Espírito Santo.” Pedro está respondendo a uma pergunta feita por pessoas que resolveram deixar a multidão, o caminho, a direção que seguiam cegamente. Eles perguntaram a Pedro o que deveriam fazer naquele momento. Em outras palavras, o apóstolo respondeu “Entrem pela porta estreita, e logo após, três coisas simultâneas acontecerão: (1)sereis propriedade de Jesus, (2)teres vossos pecados todos perdoados, e (3)receberei o Espírito Santo como ajudador de vocês..

João 3:3 “Respondeu Jesus a Nicodemos: Em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Nascer de novo é passar de uma vida para outra. Não se trata de reencarnação, como o Espiritismo tem pregado, mas o morrer para uma vida, e nascer para outra. É o passar de um lado para outro. Nascer de novo é o arrependimento, passar pela porta estreita. Jesus estava afirmando o seguinte: “Nicodemos, se você não se arrepender, você não passará para o outro lado”.

Batismo do Arrependimento, aquele pregado por João, o Batista (Marcos 1:4, Lucas 3:3, Atos 13:24), e continuado por Jesus (Mateus 28:19), tem a ver com este primeiro momento do arrependimento, tem a ver com o entrar pela porta estreita. A imersão é justamente o arrependimento, o passar por esta porta. O Sepultar, a descida às águas, é o atravessar da porta apertada, é o morrer para a antiga vida, é o deixar a multidão e sua loucura eterna; e o emergir retrata a nova existência, a ressurreição experimentada após a entrada na vida eterna.

Arrependimento para Viver

O segundo momento do arrependimento verdadeiro é o “Para Viver”. Este não faz parte da entrada pela porta estreita, mas é próprio para todas as pessoas que já estão após ela. Enquanto o primeiro é o “momentâneo”, podemos dizer que este segundo é eterno, para sempre sem fim.

Ele é muito bem identificado em 1João 3:9 “Aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado; porque a semente de Deus está nele, e não consegue continuar no pecado, porque é nascido de Deus.” Neste texto, o Senhor nos dá parâmetros deste momento do arrependimento: o penitente... (1)não permanece em pecado; (2)por que não permanece em pecado-1: O Espírito Santo nele; (3)por que não permanece em pecado-2: não consegue continuar pecando; (4)quem é o penitente.

Não Permanece em Pecado. Este momento do verdadeiro arrependimento, faz com que o salvo nunca fique preso ao processo pecaminoso de algum ato contrário a Deus. O pecado, como ato, é um processo. Ele começa inocentemente numa primeira idéia, numa primeira sugestão, e vai se aprofundando, à medida que vamos lhe atribuindo alguma importância. Daí surgem as idéias de concretização dele. Os planos, projetos de como executar, vem em seguida. Uma pessoa que passou pela porta estreita do arrependimento, vivendo o segundo momento deste, não vai além, não convive com este processo. Aqui ou acolá, ele não conseguirá ir em frente. Ele pára, e a depender de onde parou, terá tristeza profunda, capaz de deter-lhe qualquer força impulsionadora, incentivadora a continuar.

Nisto é que afirma a Bíblia em Romanos 6:14, quando nos informa que “estamos libertados do poder do pecado”. Não quer dizer que não pecaremos mais, porém que não seremos escravos, incapazes de sair de sua rota, de seu processo escravizador. O que faz, ainda, um crente, um salvo, seguir alguns passos no processo do ato pecaminoso, não é o poder que este pecado, ou o estado de pecado, possa exercer sobre ele, mas o “velho homem”, a inclinação humana para o desobedecer, a parte negativa do essencial à existência do “livre arbítrio” no homem, e nos propósitos de Deus.

O Espírito Santo Habita no Crente. Depois do primeiro momento do arrependimento, logo que entramos pela porta estreita, Deus nos capacita com algumas dádivas, uma delas é o Espírito Santo, o que conversaremos melhor, logo mais a frente. Para agora, podemos afirmar que o Seu papel, em nós, é ser nosso ajudador neste nosso novo viver. Assim é que tem a responsabilidade de não permitir que fiquemos a mercê de qualquer fascínio pecaminoso, Em outra palavras, quem tem o Espírito Santo, não permanece em pecado.

Podemos também incluir aqui, como “semente de Deus”, a fé. No capítulo sobre este assunto trataremos mais pormenorizados sobre isto. Tanto o Dom do Espírito Santo, como o Dom da fé, são, na verdade, sementes que Deus planta em toda pessoa que chega ao outro lado da vida, que chega ao outro lado da porta do arrependimento.

Quem é o arrependido? Neste texto, a Bíblia diz que é o “nascido de Deus”. Só tem a capacidade de não permanecer em pecado, no processo do ato pecaminoso, aquela pessoa que está vivendo o segundo momento do arrependimento verdadeiro, aquele que já atravessou a porta estreita, o que já está no outro lado da vida. Lembrando que não consegue isto pelos seus méritos pessoais, ou religiosos, mas pelas ajudas recebidas por Deus através de dádivas como Espírito Santo e a nova natureza.

Uma palavra bíblica que ilustra isto, está em 2Coríntiso 7:10 “A tristeza segundo Deus, conduz ao arrependimento para a vida, o qual não trás pesar; mas a tristeza segundo o mundo, conduz à condenação.” O apóstolo nos conforta, dizendo que uma mesma circunstância existencial, em especial neste momento: um pecado, produz resultados diferentes na vida de um salvo e na vida de um ímpio. No salvo a coisa se desvanece, por ser alguém arrependido, não trazendo sabor amargo, não de pesar, enquanto na vida do ímpio, por não ser arrependido, produz resultados de terror, amargura, condenação. Quando conversamos sobre “Todo Mundo No Inferno”, mas especificamente sobre “Minhas Confianças”, levantei uma pergunta feita, em momentos que afirmamos biblicamente que “salvação é imerecida e imperdível”. “O salvo pode fazer qualquer coisa, e ainda assim não perder a salvação?” Agora podemos ter uma visão bem clara sobre este assunto. Primeiro, por nada, o salvo perde sua eternidade com Cristo, o nome dele jamais será tirado do Livro da Vida, inscrito antes da fundação do mundo. Segundo, é que a Bíblia afirma “o salvo nunca permanece em pecado”. Ou cremos nisto, ou não temos Espírito Santo para nos ajudar a crer nisto que Deus nos informa na Sua Palavra.

É Deus quem Dá

O arrependimento tem dois momentos, já vimos: a entrada pela porta estreita, e aqueles que nos acompanha depois de nascer para a vida. São dois momentos definidos, diferentes, mas essencialmente presentes na existência de uma salvo na presença do Senhor.

Deus dá o arrependimento para o nascer? Este assunto já discutirmos no capítulo “Como Pessoas Vão Para o Céu?”, em “Depois de Jesus Vir Ao Mundo”. Há quem creia que Deus dá unilateralmente; há quem creia que Ele dá como resposta à mínima demonstração do querer íntimo de uma pessoa; e há quem creia que o arrependimento é fruto de inteira atuação humana. Pessoalmente vejo o Senhor Jesus convidando pessoas à porta estreita, como se dependesse inteiramente ou parcialmente delas mesmas.

O arrependimento para o viver, sem dúvida, vem de Deus. Ele nos capacita, vimos isto, para resistir, não permanecer e optar por não pecar. Um todo que nos dá como dádiva, como dons, nos enriquece contra qualquer atração do pecado.